Não havia presentes lá. Não havia joias, dinheiro, roupas,
papeis, remédios.
Havia muito tempo que os herdeiros tencionavam abrir aquela
mala misteriosa para ver o que tinha dentro. Depois do corre-corre da despedida
definitiva, chegou o tempo de vencerem a curiosidade.
Sua mala era objeto de segredo para todos. Todos mesmo. A
cidade inteira sabia de sua existência por causa de um vazamento de alguém de
dentro de casa ou de alguma pessoa que andava por lá com frequência. Era um
fato-furado e bem furado.
O que tinha dentro daquela pesada mala? A curiosidade era
aguçada por quem quer que soubesse do mistério.
Um dia viriam a saber. Ah! Isso viriam!
Chegou o dia da abertura. Todos de casa e os mais íntimos da
família ficaram de olho. Abriram.
Havia uma bela coleção de pedras não preciosas. Isso. Pedras
comuns, adquiridas nos riachos e à beira das estradas. O fato de não serem
preciosas não significa que eram feias e sem valor. Não havia preciosidade no
sentido em que entendemos. Não tinha valor pecuniário, mas o de um alguém que
cultiva um hobby. Havia uma preciosidade de colecionador. A variedade de pedras
em tamanho, formas e cores era imensa. Para ele isso bastava.