No texto seguinte, Monteiro Lobato põe na boca dos personagens a discussão do que significa o verbo transitivo - aquele que precisa de um complemento:
A IDEIA DO VISCONDE (Monteiro Lobato)
Aquele célebre passeio dos netos de Dona Benta ao País-da-Gramática havia deixado o Visconde de Sabugosa pensativo. É que todos já tinham inventado viagens, menos ele. Ora, ele era um sábio famoso e, portanto, estava na obrigação de também inventar uma viagem e das mais científicas. Em vista disso pensou uma semana inteira, e por fim bateu na testa, exclamando numa risada verde de sabugo embolorado:
- Heureca! Heureca!
Emília, que vinha entrando no quintal, parou, espantada, e depois começou a berrar de alegria:
- O Visconde achou! O Visconde achou! Corram todos! O Visconde achou!
A gritaria foi tamanha que Dona Benta, Narizinho e Pedrinho acudiram em atropelo.
- Que foi? Que aconteceu?
- O Visconde achou! - repetiu a boneca entusiasmada. O danadinho achou!...
- Mas achou que coisa, Emília?
- Não sei. Achou, só. Quando entrei na sala, encontrei-o batendo na testa e exclamando: Heureca! Ora, Heureca é uma palavra grega que quer dizer Achei. Logo, ele achou.
Dona Benta pôs as mãos na cintura e com toda pachorra disse:
- Uma boneca que já andou pelo País-da-Gramática deve saber que Achar é um verbo transitivo, dos tais que pedem complemento direto. Dizer só que achou, não forma sentido. Quem ouve, pergunta logo: "Que é que achou?" Essa coisa que o achador achou é o complemento direto do verbo achar.
- Basta de verbos, Dona Benta! - gritou Emília fazendo cara de óleo de rícino. Depois do nosso passeio pelo País-da-Gramática vim entupida de gramática até aqui - e mostrou com o dedo um carocinho no pescoço, que tia Nastácia havia feito para que ela ficasse bem igual a uma gente de verdade.
- Mas é preciso complemento, Emília! - insistiu Dona Benta. Sem complemento a frase fica incompleta e das tais que ninguém entende. Que coisa o Visconde achou? Vamos lá, Senhor Visconde. Explique-se.
O Visconde tossiu o pigarrinho e explicou:
- Achei uma linda terra que ainda não visitamos: o País-da-Matemática!
(Aritmética da Emília)
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