terça-feira, 29 de março de 2022

LEITURA DOS CLÁSSICOS LEVANTA A CABEÇA DO ALUNO

Só para registrar algo que nada tem a ver com o assunto, clássicos era marca de cigarro.

Clássicos aqui no contexto é algo decididamente importante. Um clássico de futebol é coisa para levar muitos torcedores ao estádio e outros tantos a assistirem na TV.

Importante é uma obra de Machado de Assis, José de Alencar, Érico Veríssimo.

Clássicos levantam a cabeça de quem os lê. O aluno ficará capacitado a se expressar melhor, seja na fala, seja na escrita.

Vamos nessa!

segunda-feira, 28 de março de 2022

CAPÍTULO 8 DE DOM CASMURRO

É TEMPO

Mas é tempo de tornar àquela tarde de novembro, uma tarde clara e fresca, sossegada como a nossa casa e o trecho da rua em que morávamos.

Verdadeiramente foi o princípio da minha vida; tudo o que sucedera antes foi como o pintar e vestir das pessoas que tinham de entrar em cena, o acender das luzes, o preparo das rabecas, a sinfonia... Agora é que eu ia começar a minha ópera. "A vida é uma ópera", dizia-me um velho tenor italiano que aqui viveu e morreu... E explicou-me um dia a definição, em tal maneira que me fez crer nela. Talvez valha a pena dá-la; é só um Capítulo.


domingo, 27 de março de 2022

IDEIAS DE PIERLUIGI -

As armadilhas

Em primeiro lugar, lembre-se de que todos nós temos a tendência de nos dedicar mais àquilo de que mais gostamos e em que nos sentimos cada vez mais seguros.

No entanto, temos tendência a deixar de lado justamente aquilo em que temos mais dificuldade. 

Consequentemente, se não tomarmos cuidado, teremos a tendência de nos tornar cada vez melhores naquilo em que já somos bons e cada vez piores naquilo em que já temos deficiências. 

O dia em que você ouvir frases do tipo: eu não preciso saber matemática: eu sou da área de humanas!

Ou então: Odeio ler literatura, mas não me preocupo com isso, e nem preciso disso, afinal, sou de exatas!

Saiba que você está lidando com pobres coitados que caíram nessa armadilha. (Do livro "Aprendendo inteligência", do professor Pierluigi Piazzi)

sábado, 26 de março de 2022

USO CORRETO DO CÉREBRO

Se acreditamos que o cérebro é mesmo uma máquina - uma metáfora, portanto, para o cérebro - então ele só pode funcionar corretamente se for usado corretamente, assim como todas as máquinas.

Então, por que não estudar constantemente, mas deixar para estudar um dia antes, no mesmo dia ou até alguns minutos antes dos testes?

Hein?

CAPÍTULO 7 DE DOM CASMURRO

Bantinho continua narrando sua história; Agora ele apresenta mais um personagem.

CAPÍTULO VII

D. GLÓRIA

Minha Mãe era boa criatura. Quando lhe morreu o marido, Pedro de Albuquerque Santiago, contava trinta e um anos de idade, e podia voltar para Itaguaí. Não quis; preferiu ficar perto da igreja em que meu pai fora sepultado. Vendeu a fazendola e os escravos, comprou alguns que pôs ao ganho ou alugou, uma dúzia de prédios, certo número de apólices, e deixou-se estar na casa de Matacavalos, onde vivera os dous últimos anos de casada. Era filha de uma senhora mineira, descendente de outra paulista, a família Fernandes.

Ora, pois, naquele ano da graça de 1857, D. Maria da Glória Fernandes Santiago contava quarenta e dous anos de idade. Era ainda bonita e moça, mas teimava em esconder os saldos da juventude, por mais que a natureza quisesse preservá-la da ação do tempo. Vivia metida em um eterno vestido escuro, sem adornos, com um xale preto, dobrado em triângulo e abrochado ao peito por um camafeu. Os cabelos, em bandós, eram apanhados sobre a nuca por um velho pente de tartaruga; alguma vez trazia a touca branca de folhas. Lidava assim, com os seus sapatos de cordovão rasos e surdos, a um lado e outro, vendo e guiando os serviços todos da casa inteira, desde manhã até à noite.

Tenho ali na parede o retrato dela, ao lado do marido, tais quais na outra casa. A pintura escureceu muito, mas ainda dá idéia de ambos. Não me lembra nada dele, a não ser vagamente que era alto e usava cabeleira grande; o retrato mostra uns olhos redondos, que me acompanham para todos os lados, efeito da pintura que me assombrava em pequeno. O pescoço sai de uma gravata preta de muitas voltas, a cara é toda rapada, salvo um trechozinho pegado às orelhas. O de minha mãe mostra que era linda. Contava então vinte anos, e tinha uma flor entre os dedos. No painel parece oferecer a flor ao marido. O que se lê na cara de ambos é que, se a felicidade conjugal pode ser comparada à sorte grande, eles a tiraram no bilhete comprado de sociedade.

Concluo que não se devem abolir as loterias. Nenhum premiado as acusou ainda de imorais, como ninguém tachou de má a boceta de Pandora, por lhe ter ficado a esperança no fundo; em alguma parte há de ela ficar. Aqui os tenho aos dous bem casados de outrora, os bem-amados, os bem-aventurados, que se foram desta para a outra vida, continuar um sonho provavelmente. Quando a loteria e Pandora me aborrecem, ergo os olhos para eles, e esqueço os bilhetes brancos e a  boceta fatídica. São retratos que valem por originais. O de minha mãe, estendendo a flor ao marido, parece dizer: "Sou toda sua, meu guapo cavalheiro!" O de meu pai, olhando para a gente, faz este comentário: "Vejam como esta moça me quer..." Se padeceram moléstias, não sei, como não sei se tiveram desgostos: era criança e comecei por não ser nascido. Depois da morte dele, lembra-me que ela chorou muito; mas aqui estão os retratos de ambos, sem que o encardido do tempo lhes tirasse a primeira expressão. São como fotografias instantâneas da felicidade.


sexta-feira, 25 de março de 2022

QUEM FOI DONA GLÓRIA?

Dona Glória é um dos personagens de Machado de Assis que está no seu clássico "Dom Casmurro". 

A personagem Dona Glória é apresentado por Bentinho.

COMO ADQUIRIR UM PODEROSO VOCABULÁRIO

Ler bons livros

Os  escritores denominados de clássicos podem ajudar e muito na formação  de uma gama de palavras e expressões novas.

Não é bom ler textos de escritores e/ou jornalistas, articulistas que apresentam falhas na pontuação e outros problemas com a linguagem.

TESTE SEU VOCABULARIO

Escreva diante de cada palavra abaixo uma outra que comece com r e seja exatamente o seu antônimo.

Comum      
Curvo                     
Aprovação
Pobre 
Conceder
Avanço
Cuidadoso
Pranto 
Fundo 
Imaginário 










PORTUGUÊS É DIFÍCIL

Português - referindo-se à língua - é difícil e ainda por cima muitas pessoas que não a estudam com afinco tratam de deixá-la mais difícil.


quinta-feira, 24 de março de 2022

O QUE É FRASE?

Frase é qualquer expressão ou até mesmo uma palavra que tenha sentido completo.

Se você faz um pedido de socorro, está produzindo uma frase com uma única palavra:

"Socorro!"

Se a pessoa a quem esteja fazendo o pedido for Socorro, a frase ficará mais reforçada. Não é possível que Socorro não lhe preste socorro.

Uma frase pode ser maior e não necessita de verbo. Se tiver verbo, continua sendo frase.

terça-feira, 22 de março de 2022

O PASSADO JÁ PASSOU

Muitas vezes na nossa labuta diária ou mesmo nos estudos somos tentados em acreditar que tal e tal coisa não tem mais como dar certo. Mas é ledo engano!

Se você nunca foi interessado pelos estudos, pode começar agora. Balance a poeira, afaste-se da multidão - que quase sempre está equivocada - e bola pra frente! 

Aos estudos! às leituras!

O museu é muito bom, mas somente ele vive de passado!

segunda-feira, 21 de março de 2022

É PRECISO LER

Quem já chegou ao Ensino Médio e ainda não tem bebido líquidos grossos, como leite, boas vitaminas, das mais fortes, é hora ou já está atrasado.

A metáfora da bebida é para dizer boas leituras.

O que se deve entender por boas leituras para um aluno do Ensino Médio é, obviamente, os clássicos mundiais e nacionais.

Querem exemplos?

Então, balancem-se na grande rede e vejam lá.

Digo, cá.


domingo, 20 de março de 2022

ANÁLISE SINTÁTICA: PONTUAÇÃO

Tu Senhor é minha confiança

Na frase acima há um erro de pontuação e por consequência, sintático. O erro da conjugação do verbo ser, no presente do indicativo também dá uma leve ajudinha.

As duas vírgulas que faltam - uma depois de tu e a outra, depois de Senhor - levam ao erro sintático. 

E qual é o erro? É por ser vocativo que há a necessidade de virgulas. 

O vocativo é o termo da linguagem que chama alguém ou algo. É quando o interlocutor dirige-se diretamente ao outro, num chamamento.

Do jeito que está, a frase fica desarticulada, mas não incompreensível. Um ponto de exclamação cairia muito  bem.

Deveria ficar dessa maneira:

Tu, Senhor, és minha confiança!



CAPÍTULO 6 DE DOM CASMURRO

Um novo personagem é apresentado por Machado de Assis. Vejamos:

CAPÍTULO VI  - Tio Cosme

Tio Cosme vivia com minha mãe, desde que ela enviuvou. Já então era viúvo, como prima Justina; era a casa dos três viúvos.

A fortuna troca muita vez as mãos à natureza. Formado para as serenas funções do capitalismo, tio Cosme não enriquecia no foro: ia comendo. Tinha o escritório na antiga Rua das Violas, perto do júri, que era no extinto Aljube. Trabalhava no crime. José Dias não perdia as defesas orais de tio Cosme. Era quem lhe vestia e despia a toga, com muitos cumprimentos no fim. Em casa, referia os debates. Tio Cosme, por mais modesto que quisesse ser, sorria de persuasão.

Era gordo e pesado, tinha a respiração curta e os olhos dorminhocos. Uma das minhas recordações mais antigas era vê-lo montar todas as manhãs a besta que minha mãe lhe deu e que o levava ao escritório. O preto que a tinha ido buscar à cocheira segurava o freio, enquanto ele erguia o pé e pousava no estribo - a isto seguia-se um minuto de descanso ou reflexão. Depois, dava um impulso, o primeiro, o corpo ameaçava subir, mas não subia; segundo impulso, igual efeito. Enfim, após alguns instantes largos, tio Cosme enfeixava todas as forças físicas e morais, dava o último surto da terra, e desta vez caía em cima do selim. Raramente a besta deixava de mostrar por um gesto que acabava de receber o mundo. Tio Cosme acomodava as carnes, e a besta partia a trote.

Também não me esqueceu o que ele me fez uma tarde. Posto que nascido na roça (donde vim com dous anos) e apesar dos costumes do tempo, eu não sabia montar, e tinha medo ao cavalo. Tio Cosme pegou em mim e escanchou-me em cima da besta. Quando me vi no alto (tinha nove anos), sozinho e desamparado, o chão lá embaixo, entrei a gritar desesperadamente: "Mamãe! mamãe!" Ela acudiu pálida e trêmula, cuidou que me estivessem

matando, pegou-me, afagou-me, enquanto o irmão perguntava:

—Mana Glória, pois um tamanhão destes tem medo de besta mansa?

—Não está acostumado.

—Deve acostumar-se. Padre que seja, se for vigário na roça, é preciso que monte a cavalo; e, aqui mesmo, ainda não sendo padre, se quiser florear como os outros rapazes, e não souber, há de queixar-se de você, mana Glória.

—Pois que se queixe; tenho medo.

—Medo! Ora, medo!

A verdade é que eu só vim a aprender equitação mais tarde, menos por gosto que por vergonha de dizer que não sabia montar. "Agora é que ele vai namorar deveras", disseram quando eu comecei as lições. Não se diria o mesmo de tio Cosme. Nele era velho costume e necessidade. Já não dava para namoros. Contam que, em rapaz, foi aceito de muitas damas, além de partidário exaltado; mas os anos levaram-lhe o mais do ardor político e sexual, e a gordura acabou com o resto de ideias públicas e específicas. Agora só cumpria as obrigações do ofício e sem amor. Nas horas de lazer vivia olhando ou jogava. Uma ou outra vez dizia pilhérias.


sábado, 19 de março de 2022

TIO COSME

Quem foi tio Cosme? Qual era sua profissão?

Tio Cosme é um dos personagens do clássico "Dom Casmurro", de Machado de Assis. Com maestria, Machado bota na boca de Bentinho, narrador em primeira pessoa, as recordações que este teve de seu tio.

É isto o que vamos ler amanhã no capítulo 6.

IDEIAS DE PIERLUIGI

O professor Pier dar mais uma dica para aqueles que querem aprender e não apenas ficar com conteúdos na cabeça até a hora da prova.

Quanto estudar? 

Esta é a parte mais difícil. Se você entendeu que tem de estudar todo dia, já sabe quanto estudar:

Pouco! Mas quanto é esse pouco? Dez minutos, uma hora, cinco horas?

A resposta pode parecer estranha, mas é a que realmente funciona.

Quanto? Você vai descobrir. Ou seja, ao criar o hábito de estudar todo o dia, você irá perceber, ao se autoavaliar algumas semanas depois, que houve dias em que estudou demais! e outros que nos quais estudou de menos.

Em poucos dias ou, no máximo, em poucas semanas, você vai encontrar o ritmo correto.

Com certeza, porém, será pouco estudo quando comparado com aquelas "rachações" de véspera de prova que alguns costumam fazer.  (Do livro "Aprendendo inteligência", do professor Pierluigi Piazzi)

sexta-feira, 18 de março de 2022

CAPÍTULO 5 DE DOM CASMURRO

Quem se lembra o que é - ou era um agregado?

Capítulo V -  O agregado

Nem sempre ia naquele passo vagaroso e rígido. Também se descompunha em acionados, era muita vez rápido e lépido nos movimentos, tão natural nesta como naquela maneira. Outrossim, ria largo, se era preciso, de um grande riso sem vontade, mas comunicativo, a tal ponto ás bochechas, os dentes, os olhos, toda a cara, toda a pessoa, todo o mundo pareciam rir nele. Nos lances graves, gravíssimo. 

Era nosso agregado desde muitos anos; meu pai ainda estava na antiga fazenda de Itaguaí, e eu acabava de nascer. Um dia apareceu ali vendendo-se por www.nead.unama.br 6 médico homeopata; levava um Manual e uma botica. Havia então um andaço de febres; José Dias curou o feitor e uma escrava, e não quis receber nenhuma remuneração. 

Então meu pai propôs-lhe ficar ali vivendo, com pequeno ordenado. José Dias recusou, dizendo que era justo levar a saúde à casa de sapé do pobre. 

—Quem lhe impede que vá a outras partes? Vá aonde quiser, mas fique morando conosco. 

—Voltarei daqui a três meses. 

Voltou dali a duas semanas, aceitou casa e comida sem outro estipêndio, salvo o que quisessem dar por festas. Quando meu pai foi eleito deputado e veio para o Rio de Janeiro com a família, ele veio também, e teve o seu quarto ao fundo da chácara. Um dia, reinando outra vez febres em Itaguaí, disse-lhe meu pai que fosse ver a nossa escravatura. José Dias deixou-se estar calado, suspirou e acabou confessando que não era médico. Tomara este título para ajudar a propaganda da nova escola, e não o fez sem estudar muito e muito; mas a consciência não lhe permitia aceitar mais doentes. 

—Mas, você curou das outras vezes. 

—Creio que sim; o mais acertado, porém, é dizer que foram os remédios indicados nos livros. Eles, sim, eles, abaixo de Deus. Eu era um charlatão... Não negue; os motivos do meu procedimento podiam ser e eram dignos; a homeopatia é a verdade, e, para servir à verdade, menti; mas é tempo de restabelecer tudo. 

Não foi despedido, como pedia então; meu pai já não podia dispensá-lo. Tinha o dom de se fazer aceito e necessário; dava-se por falta dele, como de pessoa da família. Quando meu pai morreu, a dor que o pungiu foi enorme, disseram-me; não me lembra. Minha mãe ficou-lhe muito grata, e não consentiu que ele deixasse o quarto da chácara; ao sétimo dia. Depois da missa, ele foi despedir-se dela. 

—Fique, José Dias. 

—Obedeço, minha senhora. 

Teve um pequeno legado no testamento, uma apólice e quatro palavras de louvor. Copiou as palavras, encaixilhou-as e pendurou-as no quarto, por cima da cama. "Esta é a melhor apólice", dizia ele muita vez. Com o tempo, adquiriu certa autoridade na família, certa audiência, ao menos; não abusava, e sabia opinar obedecendo. Ao cabo, era amigo, não direi ótimo, mas nem tudo é ótimo neste mundo. E não lhe suponhas alma subalterna; as cortesias que fizesse vinham antes do cálculo que da índole. A roupa durava-lhe muito; ao contrário das pessoas que enxovalham depressa o vestido novo, ele trazia o velho escovado e liso, cerzido, abotoado, de uma elegância pobre e modesta. Era lido, posto que de atropelo, o bastante para divertir ao serão e à sobremesa, ou explicar algum fenômeno, falar dos efeitos do calor e do frio, dos polos e de Robespierre. Contava muita vez uma viagem que fizera à Europa, e confessava que a não sermos nós, já teria voltado para lá; tinha amigos em Lisboa, mas a nossa família, dizia ele, abaixo de Deus, era tudo. 

—Abaixo ou acima? perguntou-lhe tio Cosme um dia. 

—Abaixo, repetiu José Dias cheio de veneração. 

E minha mãe, que era religiosa, gostou de ver que ele punha Deus no devido lugar, e sorriu aprovando. José Dias agradeceu de cabeça. Minha mãe dava-lhe de quando em quando alguns cobres. Tio Cosme, que era advogado, confiava-lhe a cópia de papéis de autos.

quinta-feira, 17 de março de 2022

USO DO DICIONÁRIO

Uma boa ideia para quem está precisando de ampliar mais e mais o vocabulário.

Um bom vocabulário é essencial para a construção de um bom texto. Vão por mim!

quarta-feira, 16 de março de 2022

CAPÍTULO 4 DE DOM CASMURRO

O capítulo 4 é mais curto ainda e cheio de expressões antigas que despertam no leitor grandes curiosidades.

Capítulo IV  - Um dever amaríssimo! 

José Dias amava os superlativos. Era um modo de dar feição monumental às ideias; não as havendo, servia a prolongar as frases. Levantou-se para ir buscar o gamão, que estava no interior da casa. Cosi-me muito à parede, e vi-o passar com as suas calças brancas engomadas, presilhas, rodaque e gravata de mola. Foi dos últimos que usaram presilhas no Rio de Janeiro, e talvez neste mundo. Trazia as calças curtas para que lhe ficassem bem esticadas. A gravata de cetim preto, com um arco de aço por dentro, imobilizava-lhe o pescoço; era então moda. O rodaque de chita, veste caseira e leve, parecia nele uma casaca de cerimônia. Era magro, chupado, com um princípio de calva; teria os seus cinquenta e cinco anos. Levantou-se com o passo vagaroso do costume, não aquele vagar arrastado se era dos preguiçosos, mas um vagar calculado e deduzido, um silogismo completo, a premissa antes da consequência, a consequência antes da conclusão. Um dever amaríssimo!

terça-feira, 15 de março de 2022

ATÉ QUE ENFIM

Depois de findo o período grevista, a angústia dos alunos dos alunos que estavam preocupados porque não havia aula deve ser transformada em muito estudo.

segunda-feira, 14 de março de 2022

BONS LEITORES

No capítulo 3 de Dom Casmurro, o narrador conta a denúncia. É um capítulo curto, como grande parte dos capítulos da obra.

Mas... Denúncia de quê mesmo?

Capítulo 3 de Dom Casmurro

A denúncia

Ia a entrar na sala de visitas, quando ouvi proferir o meu nome e escondi-me atrás da porta. A casa era a da Rua de Matacavalos, o mês novembro, o ano é que é um tanto remoto, mas eu não hei eu de trocar as datas à minha vida só para agradar as pessoas que não amam histórias velhas; o ano era de 1857.

- D. Glória, a senhora persiste na ideia de meter o nosso Bentinho no seminário? É mais que tempo, e já agora pode haver uma dificuldade.

- Que dificuldade?

- Uma grande dificuldade.

Minha mãe quis saber o que era. José Dias, depois de alguns instantes,  de concentração, , veio ver se havia alguém no corredor; não deu por mim, voltou e, abafando a voz, disse que a dificuldade estava na casa ao pé, a gente do Pádua.

- A gente do Pádua?

- Há algum tempo estou para lhe dizer isto, mas não me atrevia. Não me parece bonito que o nosso Bentinho ande metido nos cantos com a filha do Tartaruga, e esta é a dificuldade, porque se eles pegam de namoro, a senhora terá muito que lutar para separá-los.

- Não acho. Metido nos cantos?

É um modo de falar. Em segredinhos, sempre juntos. Bentinho quase que não sai de lá. A pequena é uma desmiolada; o pai faz que não vê; tomara ele que as coisas corressem de maneira, que... Compreendo o seu gesto; a senhora não crê em tais cálculos, parece-lhe que todos têm a alma cândida...

Mas, Sr. José Dias, tenho visto os pequenos brincando, e nunc vi nada que faça desconfiar. Basta a idade; Bentinho mal tem quinze anos. Capitu fez quatorze a semana passada; são dois criançolas. Não se esqueça que foram criados juntos, desde aquela grande enchente, há dez anos, em que a família Pádua perdeu tanta coisa; daí vieram as nossas relações. Pois eu hei de crer?...? Mano Cosme, você que acha?

Tio Cosme respondeu com um "Ora" que, traduzido em vulgar, queria dizer: "São imaginações do José Dias; os pequenos divertem-se, eu divirto-me; onde está o gamão?"

- Sim, creio que o senhor está enganado.

- Pode ser, minha senhora. Oxalá tinham razão; mas creia que não falei senão dpois de muito examinar...

- Em todo caso, vai sendo tempo, interrompeu minha mãe; vou tratar de met^-lo  no seminário quanto antes.

Bem, uma vez que não perdeu a ideia de o fazer padre, tem-se ganho o principal. Bentinho há de satisfazer os desejos de sua mãe. E depois a igreja brasileira tem altos destinos. Não esqueçamos que um bispo presidiu a Constituinte, e que o padre Feijó governou o o império...

- Governou com a cara dele! atalhou tio Cosme, cedendo a antigos rancores políticos.

- Perdão, doutor, não estou defendendo ninguém, estou citando. O que eu quero é dizer que o clero ainda tem grande papel no Brasil.

- Você o que quer é um capote; ande, vá buscar o gamão. Quanto ao pequeno, se tem de ser padre, realmente é melhor que não comece a dizer missa atrás das portas. Mas, olhe cá, mana Glória, há mesmo necessidade de fazê-lo padre?

- Sei que você fez promessa... mas, uma promessa assim... não sei...Creio que bem pensado... Você que acha, prima Justina?

- Eu?

- Verdade é que cada um sabe melhor de si, continuou tio Cosme; Deus é que sabe de todos. Contudo, uma promessa de tantos anos... Mas, que é isso, mana Glória? Está chorando? Ora esta! Pois é coisa de lágrimas?

Minha mãe assou-se sem responder. Prima Justina creio que se levantou e foi ter com ela. Seguiu-se um alto silêncio, durante o qual estive a pique de entrar na sala, mas outra força maior, outra emoção... Não pude ouvir as palavras que Tio Cosme estrou a dizer. Prima Justina exortava: "Prima Glória! Prima Glória!" José Dias desculpava-se: "Se soubesse, não teria falado, mas falei pela veneração, pela estima, pelo afeto, para cumprir um dever amargo, um dever amaríssimo..."


domingo, 13 de março de 2022

IDEIAS DE PIERLUIGGI

Se você criar o hábito de estudar pouco, mas todos os dias, irá verificar, em pouco tempo, que o que você estudou não ficará retido apenas o tempo o bastante para, mal e porcamente, descarregar num papel na hora da prova.

sábado, 12 de março de 2022

CAPÍTULO 2 DE DOM CASMURRO

Depois de ler o capítulo 1, vamos ao 2. O personagem-narrador apresenta a casa onde mora, como vive e o objetivo da obra. Com um dicionário à mão, a leitura flui leve.

Do Livro 

Agora que expliquei o título, passo a escrever o livro. Antes disso, porém, digamos os motivos que me põem a pena na mão. 

Vivo só, com um criado. A casa em que moro é própria; fi-la construir de propósito, levado de um desejo tão particular que me vexa imprimi-lo, mas vá lá. Um dia, há bastantes anos, lembrou-me reproduzir no Engenho Novo a casa em que me criei na antiga Rua de Matacavalos, dando-lhe o mesmo aspecto e economia daquela outra, que desapareceu. Construtor e pintor entenderam bem as indicações que lhes fiz: é o mesmo prédio assobradado, três janelas de frente, varanda ao fundo, as mesmas alcovas e salas. Na principal destas, a pintura do teto e das paredes é mais ou menos igual, umas grinaldas de flores miúdas e grandes pássaros que as tomam nos bicos, de espaço a espaço. Nos quatro cantos do teto as figuras das estações, e ao centro das paredes os medalhões de César, Augusto, Nero e Massinissa, com os nomes por baixo... Não alcanço a razão de tais personagens. Quando fomos para a casa de Matacavalos, já ela estava assim decorada; vinha do decênio anterior. Naturalmente era gosto do tempo meter sabor clássico e figuras antigas em pinturas americanas. O mais é também análogo e parecido. Tenho chacarinha, flores, legume, uma casuarina, um poço e lavadouro. Uso louça velha e mobília velha. Enfim, agora, como outrora, há aqui o mesmo contraste da vida interior, que é pacata, com a exterior, que é ruidosa. 

O meu fim evidente era atar as duas pontas da vida, e restaurar na velhice a adolescência. Pois, senhor, não consegui recompor o que foi nem o que fui. Em tudo, se o rosto é igual, a fisionomia é diferente. Se só me faltassem os outros, vá; um homem consola-se mais ou menos das pessoas que perde; mas falto eu mesmo, e esta lacuna é tudo. O que aqui está é, mal comparando, semelhante à pintura que se põe na barba e nos cabelos, e que apenas conserva o hábito externo, como se diz nas autópsias; o interno não aguenta tinta. Uma certidão que me desse vinte anos de idade poderia enganar os estranhos, como todos os documentos falsos, mas não a mim. Os amigos que me restam são de data recente; todos os antigos foram estudar a geologia dos campos santos. Quanto às amigas, algumas datam de quinze anos, outras de menos, e quase todas creem na mocidade. Duas ou três fariam crer nela aos outros, mas a língua que falam obriga muita vez a consultar os dicionários, e tal frequência é cansativa. 

Entretanto, vida diferente não quer dizer vida pior; é outra coisa. A certos respeitos, aquela vida antiga aparece-me despida de muitos encantos que lhe achei; mas é também exato que perdeu muito espinho que a fez molesta, e, de memória, conservo alguma recordação doce e feiticeira. Em verdade, pouco apareço e menos falo. Distrações raras. O mais do tempo é gasto em hortar, jardinar e ler; como bem e não durmo mal. 

Ora, como tudo cansa, esta monotonia acabou por exaurir-me também. Quis variar, e lembrou-me escrever um livro. Jurisprudência, filosofia e política acudiram-me, mas não me acudiram as forças necessárias. Depois, pensei em fazer uma História dos Subúrbios, menos seca que as memórias do Padre Luís Gonçalves dos Santos, relativas à cidade; era obra modesta, mas exigia documentos e datas, como preliminares, tudo árido e longo. Foi então que os bustos pintados nas paredes entraram a falar-me e a dizer-me que, uma vez que eles não alcançavam reconstituir-me os tempos idos, pegasse da pena e contasse alguns. Talvez a narração me desse a ilusão, e as sombras viessem perpassar ligeiras, como ao poeta, não o do trem, mas o do Fausto: Aí vindes outra vez, inquietas sombras...? 

Fiquei tão alegre com esta ideia, que ainda agora me treme a pena na mão. Sim, Nero, Augusto, Massinissa, e tu, grande César, que me incitas a fazer os meus comentários, agradeço-vos o conselho, e vou deitar ao papel as reminiscências que me vierem vindo. Deste modo, viverei o que vivi, e assentarei a mão para alguma obra de maior tomo. Eia, comecemos a evocação por uma célebre tarde de novembro, que nunca me esqueceu. Tive outras muitas, melhores, e piores, mas aquela nunca se me apagou do espírito. É o que vais entender, lendo. 

sexta-feira, 11 de março de 2022

FOCO NA LITERATURA, LEITURA E VOCABULÁRIO

O estudante bom deve ficar sua vida estudantil na leitura de bons produtores de textos do naipe dos grandes escritores brasileiros.

Não deverá também perder o foco no vocabulário usado por eles. 

Aprender palavras novas é o que sustenta no futuro bons redatores.

terça-feira, 8 de março de 2022

GÍRIA EM INGLÊS

Afters - Sobremesa.

Literalmente, after significa depois de, após.

segunda-feira, 7 de março de 2022

BONS LEITORES

Tentando desfazer alguns mitos sobre leitura

Na coluna "Bons leitores", postarei nesta primeira etapa o texto integral de um dos clássicos da literatura brasileira: "Dom Casmurro", de Machado de Assis. Será um trabalho braçal e de esforço para provar aos leitores iniciais que a leitura deste clássico não é tão difícil de ler como se pintam por aí.

Tentem saborear o capítulo 1, caros leitores, e verás quanto interessante é a história de Bentinho e Capitu. Qualquer dúvida sobre o vocabulário, não tenham vergonha e fazer uma parada e consultar um dicionário. O narrador-personagem começa sua extraordinária história quando viajava num trem.

Capítulo 1 de Dom Casmurro

Do título

Uma noite destas, vindo da cidade para o Engenho Novo, encontrei no trem da Central um rapaz aqui do bairro, que eu conheço de vista e de chapéu. Cumprimentou-me, sentou-se ao pé de mim, falou da lua e dos ministros, e acabou recitando-me versos. A viagem era curta, e os versos pode ser que não fossem inteiramente maus. Sucedeu, porém, que, como eu estava cansado, fechei os olhos três ou quatro vezes; tanto bastou para que ele interrompesse a leitura e metesse os versos no bolso.

- Continue, disse eu acordando.

- Já acabei, murmurou ele.

- São muito bonitos. 

Vi-lhe fazer um gesto para tirá-los outra vez do bolso, mas não passou do gesto; estava amuado. No dia seguinte entrou a dizer de mim nomes feios, e acabou alcunhando-me Dom Casmurro. Os vizinhos, que não gostam dos meus hábitos reclusos e calados, deram curso à alcunha, que afinal pegou. Nem por isso me zanguei. Contei a anedota aos amigos da cidade, e eles, por graça, chamam-me assim, alguns em bilhetes: "Dom Casmurro, domingo vou jantar com você".  - "Vou para Petrópolis, Dom Casmurro; a casa é a mesma da Renânia; vê se deixas essa caverna do Engenho Novo, e vais lá passar uns quinze dias comigo". - "Meu caro Dom Casmurro, não cuide que o dispenso do teatro amanhã; venha e dormirá aqui na cidade; dou-lhe camarote, dou-lhe chá, dou-lhe cama; só não lhe dou moça".

Não consultes dicionários. Casmurro não está aqui no sentido que eles lhe dão, mas no que lhe pôs o vulgo de homem calado e metido consigo. Dom veio por ironia, para atribuir-me fumos de fidalgo. Tudo por estar cochilando! Também não achei melhor título para a minha narração. Se não tiver outro daqui até o fim do livro, vai este mesmo. O meu poeta do trem ficará sabendo que não lhe guardo rancor. E com pequeno esforço, sendo o título seu, poderá cuidar que a obra é sua. Há livros que apenas terá isso dos seus autores; alguns nem tanto.


domingo, 6 de março de 2022

PARA UM BOM RETORNO ÀS AULAS

Se é verdade que o mais prejudicado é o aluno quando se trata de não ter aula por causa de pandemia, imprensado, greve e outras coisas, então é bom que os alunos procurem aproveitar o tempo em que estiver havendo aula, sem reclamar tanto do tempo em que está frequentando.

Por que devemos aproveitar o máximo o tempo escolar?

Porque ninguém sabe o que pode acontecer daqui pra frente. Os mais jovens não sabem que até por causa de chuvas em excesso pode o ano letivo ser interrompido por um tempo. Em 2009, passamos aproximadamente um mês sem ter aulas por causa das fortes chuvas e a consequente sangria da barragem de Umari.

A sangria da barragem de Umarí, localizada no município de Upanema, aumentou bastante depois das últimas chuvas caídas na região. A barragem, terceiro maior reservatório de água do Estado, está com 0,65 cm de lâmina d`água, sendo a maior de sua história e, causando estragos por onde passa. Com isso, a situação se agravou em algumas áreas próximas da margem do rio, que corta a cidade. 

Nas primeiras horas de hoje, duas famílias tiveram que ser retiradas de suas casas devido à invasão das águas. Uma, foi transferida para casa de parentes, a outra está abrigada no colégio municipal Maria Gorete. No total, cerca de seis famílias já foram retiradas de seus lares em decorrência da enchente.
Outro problema causado pelas chuvas, é o isolamento das comunidades rurais. A única passagem molhada que dava acesso as comunidades localizadas a leste do município, está debaixo d`água. As aulas foram suspensas em virtude das estradas vicinais não apresentarem condições de tráfego. Ontem à noite, no caso mais grave, uma mulher em trabalho de parto teve que ser transferida para Açú, pois não conseguia chegar a sede do município upanemense. Toda a operação teve o apoio da Polícia Rodoviária Federal, que estava orientada pela Secretaria Municipal de Saúde, caso ocorressem problemas com os atoleiros da estrada de barro que liga os dois municípios. Pelas informações obtidas, mãe e filho passam bem. (Secretaria de Turismo e Comunicação de Upanema, em 27 de maio de 2009)

Bastou a nossa barragem sangrar para que as coisas por aqui ficassem preta. 

A dica que dou a todos é que voltemos com vontade de estudar. "Tudo pode acontecer". É o que sempre diz um velho amigo setentão.


sábado, 5 de março de 2022

VOLTA

 As aulas na rede estadual recomeçam na próxima segunda-feira, 7.

Foram exatamente quatorze dias sem aula.

Agora, mãos à obra e mentes a funcionar!

O VALOR DO LATIM: QUARESMA

A palavra “Quaresma” vem do termo Quadragesima, que em latim significa “quarenta dias”. Essa associação do termo com os quarenta dias também está presente em outros idiomas, como no espanhol, que se refere ao período como Cuaresma; no italiano, Quaresima; e no francês, Carême.

Não se sabe exatamente o motivo pelo qual se estabeleceu a Quaresma com 40 dias de duração, mas, na tradição bíblica, diversos acontecimentos se estenderam por um período que leva o número 40:

O jejum de Jesus no deserto ocorreu em 40 dias;

O dilúvio do qual Noé sobreviveu também levou 40 dias e 40 noites;

A travessia do deserto por Moisés e os hebreus ocorreu em 40 anos, etc.

A Quaresma é uma prática realizada por fiéis de tradição católica, assim como por devotos da Igreja Ortodoxa, anglicanos e luteranos. Aqui no Brasil existe um grande número de cristãos evangélicos e, para eles, a Quaresma não é observada, uma vez que o entendimento da tradição evangélica é de que práticas como jejuns e orações não devem ser resumidas apenas aos 40 dias que antecedem a Páscoa.

(www.brasilescola.uol.com.br)

Agora, pergunto:

Por que o latim não está no currículo da escola?

sexta-feira, 4 de março de 2022

JÁ É HORA

Para quem está no início do Ensino Médio, é uma boa hora de começar a estudar pra valer, causo queira ter uma chance de ser aprovado em algum curso mais na frente.

O método de estudo é o tradicional. Isso! Aquele que sempre deu certo em qualquer lugar do planeta. 

O segredo é: não há segredo. Queimar as pestanas estudando é uma expressão que não escuto mais. 

Queimavam-se as pestanas com as chamas das lamparinas, em altas horas da noite e madrugada. O resultado era sempre o mesmo: aprovação.

Livros e mais livros. Dicionários. Anotações. A fórmula que dá certo.

quinta-feira, 3 de março de 2022

QUESTÃO ORTOGRÁFICA

S (esses) desperdiçados

Desperdiçamos esses ssssss quando os colocamos no plural de hora, por exemplo. O plural daquela palavra é simplesmente um h.

Plural de hora: h. Em Brasília 19h. Recordação. O início da Voz do Brasil começa assim.

quarta-feira, 2 de março de 2022

CRÔNICA

Galos ausentes

Onde estão os galos com seus cantos da madrugada e varando as manhãs?

Choco para alguns, pois seu canto não é universal na sua entoação e ritmo. Até a bondade e a beleza da voz variam de galo para galo.

Há aqueles que dão uns estirões, uma cantada esticada, que nos dão a ideia que aquilo não acaba mais ou que mesmo engoliu alguma coisa e está engasgado o pobrezinho. Mas não. Pode ser que ele esteja tão rouco de cantar que forçou demais as cordas vocais. 

Há ainda a possibilidade de uma gripe apanhada por aí - não dos humanos. Se isso fosse possível, certamente não haveria um galo sequer sem gripe, devido a onda terrível pela qual passamos.

Como num fio bem articulado, seus cantos se interligam de rua a rua. Até parece que eles combinam a hora de um começar e de outro emendar, lá bem longe. Quem começa primeiro? O melhor cantor poderia comandar o início do canto, pois se sentiria privilegiado. Os melhores cantariam antes? 

Não é assim entre os humanos nos shows que fazem por aí. Os que fazem a janela são os primeiros mas não são os melhores. Teoricamente, pelo menos, não são os melhores nem ganham igual. Entre os galos tanto faz, visto que eles não ganham nada com isso. Cantam pelo instinto, quiçá por prazer.

São perturbados muitas vezes por estranhos que se intrometem em suas vidas num captar para si e tirar de seus donos o senhorio. Geralmente são captações ilegais e criminosas. Criminosas em dois sentidos: o furto e o crime propriamente dito,  e depois de levá-lo para algum lugar para servir de saboroso tira-gosto de uma cana malvada com os amigos.

Sei que sinto a ausência desses cantos. Será que eles mudaram de bairro com seus donos? Ou será que eles estão tão escassos que os donos os venderam e não renovaram o estoque?

Sua música matinal precisa voltar para ecoar no espaço e encantar novamente os ouvidos de seus apreciadores.

terça-feira, 1 de março de 2022

CANTO DOS GALOS

Quem de vós ouve com frequência o canto dos galos? 

Galos cantam mais nas madrugadas. Dificilmente ouve-se um cantar em outras horas.

E é disso que tratará a crônica de amanhã: o canto dos galos. Ela será publicada bem na horinha em que ainda há galos cantando.


CONTO

Conto de carnaval*   

Por Francisco Xavier Gondim

A cidade vivia um clima pré-carnavalesco. Onze da manhã da quinta-feira. Os meninos ligaram garantindo a vinda para uma das maiores festas que a cidade tem, ao lado da Festa do Esporte e Padroeira. Quando eles vinham, era sucesso garantido, pois sempre botávamos aquele "boneco" de arrepiar. Pra começar, quase que desmanchávamos o velho jipe do papai, pintando as laterais e a frente. Pintando, não, melando de tinta até mesmo o para-brisa. A festa estava garantida, sim.

Por que jipe e não o corsa que estava seminovo? Quem conhece jipe sabe que ele "aguenta o pancão". Sua atração nas quatro rodas não deixa ninguém na estrada: enfrenta e vence lama, areia, pedras, subida e os maiores empecilhos. 

Depois de termos recebido a ligação, ficamos mais animados ainda pra pularmos o carnaval daquele ano. Tanto assim, é que decidimos começar a nossa festa logo naquela hora. Botamos gás no transporte e pulamos em cima dele, com a mesma roupa que estávamos. Não esperamos que a costureira aprontasse a roupa dos quatro dias.

Como morávamos perto uns dos outros, não foi difícil juntar todos num lugar só e principiarmos a festa antecipadamente. Fomos ao bar de Seu Manuel e pegamos umas vodkas, cervejas, gelo, refrigerantes. Na bodega de Dona Sinhá pegamos carne e alguns quitutes, além de fósforos, óleo, etc. É que decidirmos fazermos uma farrinha fora da cidade enquanto chegava a festa de momo.

E assim, partimos faltando dez para as duas. 

Saímos em disparada em direção de um sítio da zona rural que tinha espaço amplo e distava uns três quilômetros. Ao chegarmos lá, já tínhamos consumido umas boas doses. A casa velha estava suja em razão de ser pouco visitada. Da turma, alguns fizeram uma pequena faxina. Outros continuaram tomando a cachacinha em pequenos goles. Outros preferiam ficar ouvindo o som velho do carro e dançar ao redor esquentando o clima de carnaval que só iria começar na cidade no dia seguinte. Preferi pegar gravetos e providenciar um fogo para assar a carne que serviria como tira-gosto.

Nossos vizinhos de sítio ficavam tão distantes que não escutavam nossa zuada. Melhor assim.

Na saída tínhamos decidido voltar antes da meia-noite daquela quinta e emendarmos na folia direto até a manhã da quarta-feira. Já chegava as nove e alguns pareciam baleados pela malvada. O pequeno açude servia de banho para aliviar os efeitos do álcool. 

Lá pras dez e meia, perguntei à turma se queria ir embora. 

- O clima está muito bom, disse um colega. Era mais de onze quando todos concordaram voltar pra cidade. 

- Quem será o motorista? Gritou um.

- Eu, não!

- Também não!

- Também não!

- Eu estou bêbado, mas louco, não!

Apesar de ter tomado umas, chamei-os a razão o fato de estarmos movidos álcool. Mesmo assim, Leo atirou-se dentro do carro dizendo que o conduziria  visto que estava em perfeitas condições de guiá-lo.

Como todos estavam incapacitados para dirigir, Leo foi aceito.

- Vamos, porque já são quase meia-noite.

Saímos gritando e o carro voou baixo. Na primeira curva senti que não ia dar certo. 

Em poucos instantes, na segunda curva sobramos em cima de uns mofumbos de galhos grossos, descendo num barranco não muito fundo. O espatifado de gente foi pra todo lado. Caí de costas em cima de um colega. Só me lembro disso. Somente no hospital soube de detalhes: cinco foram levados pra cidade vizinha com braços ou pernas quebradas. Os demais curaram seus ferimentos na cidade mesmo.

E o velho jipe? Ah! Dele restaram muita coisa: as rodas, a direção, o esqueleto central e a lembrança.

A nós, a lição de nunca mais querermos combinar álcool, carnaval antecipado e direção de carro. 

E os colegas que ligaram? Eles só chegaram à noite da sexta-feira quando já estávamos remoendo no juízo o grande arrependimento  da mancada em que havíamos nos metido. 

(*"O Conto de carnaval" foi primeiramente publicado no Jornal O Mossoroense e depois no Jornal de Upanema em 3 de março de 2004)


COMO É FÁCIL CONJUGAR VERBOS EM INGLÊS

Como conjugar o verbo to need?

Present tense

I need                      We need
You need                 You need
He needs                 They need
She needs
It needs    

Vejam um exemplo do uso do verbo to need em "Help", dos Beatles:

I need somebody
(Help) not just anybody
(Help) you know I need someone, help.

Agora, tente mudar as pessoas gramaticais utilizando o verbo need na primeira frase:

I need somebody
You need...