terça-feira, 10 de outubro de 2023

CRÔNICA

Aquela senhora

Aquela senhora, quem a via, não diria que ela sabia do que sabia. Sabia ler e gostava de ler. Descobri isso uma vez quando me abordou e disse que desejava conhecer o livro de Ramos. 

- Dizem que o filho de Dona Mafalda publicou um livro.

- Sim. Na verdade é uma obra póstuma. Depois que ele morreu, seus familiares reuniram alguns poemas que ele tinha escrito e deu um livro.

-Gostaria de ler. Sabe quem tem?

- Sim. Posso arranjar pra senhora.

E arranjei. Depois de alguns dias desse pequeno colóquio, fui em sua casa e deixei lá o exemplar.

Gente da velha guarda, gostava de ler livros em papel. Nunca a vi com um celular na mão como as pessoas mais velhas com perfis de modernos. O negócio dela era livro em papel. Por diversas vezes eu passava em frente de sua casa e a via com um livro na frente dos olhos, ligadíssima nas histórias. Era uma senhora bem informada, que tinha uma vida de leitura intensa. Pelo que percebi, não dava pra chegar a bibliófila no sentido total da palavra, mas amante da leitura, isso sim. Um bom exemplo para a atual geração que enfeitiçou-se com as  leituras de celular e trocou os autores: ao invés de Machado ou Érico Veríssimo,  colega de escola ou mesmo um desconhecido. Ela não está mais entre nós, mas deixou um bom exemplo de leitor.

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