sábado, 12 de novembro de 2022

QUESTÃO PARA O ENEM

(PUC- MG) Texto para questões  (Casimiro de Abreu)

Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!

Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!

QUESTÃO 1

Todas as alternativas apresentam características românticas do texto, exceto:

a) o eu lírico foge da realidade presente para um passado idealizado.
b) o eu lírico expressa sua emoções.
c) o autor dissocia os aspectos formais dos emocionais.
d) a voz poética revela-se saudosista.
e) o autor apresenta elementos de brasilidade.

QUESTÃO 2

Assinale o dado linguístico que liga o trecho ao estilo romântico.

a) pontuação expressiva.
b) predominância de adjetivos.
c) elementos sofisticados para cenário.
d) verbos para exaltação do tempo presente.
e) pronomes possessivos garantem o egocentrismo.

segunda-feira, 26 de setembro de 2022

COISAS DA GRAMÁTICA

 O grande valor da gramática

A espinha dorsal de um texto - a despeito das modernas opiniões sobre o assunto - é a gramática.

Se alguém é um bom leitor de textos bem articulados, ele tem a chance de escrever bem e terá mais chances ainda se entender pelo menos o básico da gramática.

A gramática disciplina as palavras, as frases, o texto em geral quando o leitor de textos de bem  articulados está de caneta na mão ou os dedos dedando o teclado.

Se o leitor entende bem do assunto que está a escrever e ainda por cima, sabe concordância verbal, terá mais chances de escrever Aqueles meninos gostam muito de ler os clássicos e não Aqueles menino gosta muito de ler os clássico.

sábado, 3 de setembro de 2022

QUE PALAVRA!

Chico

Designação afetiva de macaco (Aurélio).

Pequeno. Hipocorístico de Francisco (Silveira Bueno).

Outros hipocorísticos mais conhecidos: Zé, vem de José; Tõe, Tonho, Toinho, vêm de Antônio; Mané, de Manuel.

quarta-feira, 24 de agosto de 2022

A CHAVE QUE ABRE AS PORTAS PARA OS ESTUDANTES

Eis a chave que abre as portas do sucesso para o aluno. É uma chave simples, pequena, mas de grande significado. É uma chave que todo aluno tem, mas poucos usam. E os que usam, obtém sucesso.

É uma chave que a cada dia fica mais barata, sem custos financeiros. Por isso é que os de pouca renda que chegam ao sucesso, são louvados, mas poucos atentam para os motivos que os levaram a passar nesse ou naquele exame, seja vestibular, enem ou concurso público.

O nome da chave é o estudo em casa. São aqueles deveres de casa que brotam de dentro do aluno e não do professor. O aluno estudioso não necessita de que o professor diga que ele precisa estudar em casa ou que deva fazer tal ou tal dever. Ele estuda e pronto!

terça-feira, 9 de agosto de 2022

CONTRIBUIÇÕES DE JAIME AMERICANO PARA O BOM ENSINO

Quem é Jaime Americano?

James Shapiro, mais conhecido por Jaime Americano, está em terra upanemense desde sexta-feira, 5.

Jaime volta para rever as pessoas que o conheceram na virada dos anos 60 e início de 70. Deu aulas de inglês e fez história.

Sua contribuição para o ensino foi muito significativa.

No seu retorno, encontrou muita pessoas que nunca tinham visto presencialmente, mas só de ouvir falar. Um número muito menor de pessoas que o conheceu naquela época.

Ao longo da minhas postagens, focarei no que ele pensa sobre o ensino, o que ele fez ainda por esse tão grande empreendimento que é o ensino-aprendizagem.

domingo, 19 de junho de 2022

MAIS IDEIAS DE PIERLUIGI

Vamos recordar por um instante o velho ditado:

Se eu ouço, esqueço

Se eu vejo, entendo

Se eu faço, aprendo.

Agora, pense um pouco no que você faz (ou deveria fazer) nas horas de aula e nas horas de estudo.

Note que, durante as aulas, normalmente você ouve e vê e pouco faz. Isso significa que, durante a aula, se muito, você entende.

Depois, no momento do estudo, é que você tem a chance de fazer. 

Fazer por ocasião da resolução de problemas, fazer enquanto estiver elaborando o resumo de um texto, fazer ao escrever e desenhar.

Por isso, é no momento do estudo que você aprende, ou seja, prepara as condições para que suas redes neurais, naquela mesma noite, se reconfigurem alterando fisicamente a estrutura de seu cérebro. 

(Do livro "Aprendendo inteligência", do professor Pierluigi Piazzi)

domingo, 12 de junho de 2022

IDEIAS DE PIERLUIGI

Digitar não é escrever!

Não adianta nada fazer resuminhos no editor de texto! Eles ficarão gravados no HD do computador e não no seu HD!

Você já se perguntou qual a matéria  mais fácil de aprender?

Pense um pouco...

... isso mesmo: matemática!

Se você não concorda com isso, releia, por favor, a pergunta.

Não perguntei qual a matéria mais fácil de entender.

Aliás, em certos assuntos, matemática é até bem difícil de ser entendida.

Mas, uma vez entendida, se torna fácil de ser aprendida!

Estudar matemática é fazer, fazer e fazer!

Por outro lado, as pessoas acham que o estudo de história é simples porque, durante as aulas, entendem tudo. Depois se queixam de que não conseguem guardar o que aprenderam.

Na realidade, não aprenderam, só entenderam.

Para realmente aprender história, não basta assistir à aula e depois ler um capítulo do livro. é necessário ter lápis e papel e escrever as palavras-chave, os trechos mais significativos.

Não há necessidade de fazer um resumo completo, mas é importante escrever, de forma até esquemática, os pontos mais importantes. (Do livro Aprendendo inteligência, de Pierluigi Piazzi, páginas 59-0)

O registro das aulas em um caderno ajuda muito na aprendizagem. Isso é difícil e quase impossível de acontecer porque boa parte dos nossos alunos não largam o celular em nenhum instante.

terça-feira, 7 de junho de 2022

FUNDAMENTAL EM UM BOM TEXTO

A concisão - Num texto escrito, ou até mesmo oral, a prolixidade deve dar lugar à concisão.

Às vezes temos muito o que dizer ou escrever, mas não há espaço para tudo. Então precisamos saber dizer tudo em poucas linhas ou palavras.

A dica aí de cima serve para quem vai fazer ENEM. Treinem a concisão, senão correrá o risco de cometer um erro daquele tamanho!


sexta-feira, 27 de maio de 2022

DICA PARA QUEM ESCREVE

Para quem pouco escreve ou não escreve de jeito nenhum, necessita de iniciar devagar, devagarinho.

Devagar e utilizar frases curtas

segunda-feira, 23 de maio de 2022

NOVA TEMPORADA DE ESTUDOS

Terminado o prazo para a inscrição no ENEM - o Exame Nacional do Ensino Médio - o estudante está mais uma vez - para os veteranos - de frente com um teste que testa sua aptidão para entrar na Universidade de forma gratuita, digamos. Para os novatos, uma novidade. 

Para ambos, um desafio monstruoso que tem pela frente. Estudar é o único mote. Começar a estudar agora, após a inscrição, não é o certo, mas já é alguma coisa. Deveriam ter estudado desde que entrou no terceiro degrau de estudo.


domingo, 15 de maio de 2022

IDEIAS DE PIERLUIGI

Como estudar?

Muitos alunos sabem quando e quanto estudar, mas não sabem como estudar.

As distrações - Você deve estar em um local sossegado, confortável e que permita concentração.

Por isso... nada de TV e rádio! E celular também.

Mas não posso estudar ouvindo música?

Pode, mas vamos entender algo muito importante com relação ao funcionamento de seu cérebro: a transmissão de um pulso elétrico, de um neurônio para o outro, é absurdamente mais vagarosa do que na fiação de um computador.

Consequentemente, para superar essa "lerdeza", o nosso cérebro usa um truque que, em informática, é chamado de "processamento paralelo".

Isso significa que várias partes do cérebro conseguem realizar tarefas diferentes e ao mesmo tempo. Um ser humano consegue guiar um automóvel mascando chiclete, ouvindo música no rádio e ainda conversando com o passageiro.

Analisando com detalhes o cérebro de um ser humano não canhoto, vemos que cada uma das metades (denominadas "hemisférios cerebrais") se especializou em realizar tarefas específicas. 

Imagine um crânio visto de cima: no hemisfério esquerdo, temos os módulos cognitivos Linguístico e o Lógico-matemático; no direito localizam-se o Musical e o Espacial.

Como você já deve ter suspeitado, ao estudar as matérias da escola você utiliza mais os módulos 1,3 e 4.

Portanto, se estudar ouvindo música instrumental (sem que alguém cante num idioma que você conheça), não apenas o módulo 3 não vai interferir com os outros, como até ajudará a abafar outros ruídos do meio ambiente que poderiam atrapalhar sua concentração. Mas... e se eu quiser ouvir uma banda de rock que tenha um vocalista?

Que seja rock húngaro, pois se o vocalista cantar num idioma compreensível (húngaro é absolutamente incompreensível, a não ser para os próprios húngaros... e mesmo assim com ressalvas!), a letra da música irá interferir no módulo 1, distraindo sua atenção daquilo que você possa estar lendo ou escrevendo. (Do livro "Aprendendo inteligência", de Pierluigi Piazzi)

terça-feira, 10 de maio de 2022

ALUNOS DEBATEM

Alunos debatem sobre os filmes e séries a que estão assistindo

O professor aproveita o momento e indaga-lhes:

Qual o mais importante para um estudante? 

As séries/filmes ou os livros?

Eles, em sua maioria, reconhecem o valor dos livros, sem que descartem os textos não-verbais.

quarta-feira, 20 de abril de 2022

CRÔNICA

 Ela e o tempo

Ela olha para si e se vê velha, velha. O que teria acontecido com ela que estava assim nesse estado? Não tinha o costume de se ver. Ela, que tinha recebido tantas pessoas, durante décadas e mais décadas, e oferecido banquetes e bailes de salão. Ela, que sabia de muitos segredos de pessoas chegadas e de gente de longe, que vinham e demorava voltar, ou nem voltava mais. 

Agora, caía aos pedaços.

É o tempo que não me fez perceber o que se passava comigo. 

Depois voltava no tempo e já não botava no tempo a conta de não ter percebido seu estado. Agora dizia que eram os afazeres das pessoas que ocuparam seu olhar e não permitiram que ela acompanhasse sua trajetória de vida.

Um belo dia - belo, uma forma de falar sobre um acontecimento do passado - nada de belo ocorreu com ela: veio a chuva, carregada de ventos fortes e a tirou daquele lugar, mas em pedaços. Não poderia ser o contrário, pois seus pés eram fincados no chão, em alicerces. Somente alguns membros puderam sair do lugar. Outros não resistiram e se despedaçaram no ar. 

Naquele lugar só ficou o alicerce e alguns membros que não foram levados pelo vento e a correnteza da chuva. Esta a levou, atravessando o rio e a destruindo por completo em seu leito.

Além do que ficou, também restou a lembrança dos transeuntes.

segunda-feira, 18 de abril de 2022

IDEIAS DE PIERLUIGI

Meia hora de estudo...

Dez minutos de intervalo...

Meia hora de estudo...

Dez minutos de intervalo...

...e assim por diante.

Com o correr do tempo, após criar esse hábito, você poderá fazer alguns ajustes.

Como cada pessoa tem um ritmo próprio, talvez essa meia hora possa ser esticada para 40 ou até 50 minutos. (Mas não passe disso!)

O intervalo ainda pode ser ampliado para uns 15 ou 20 minutos. (Mas, insisto: não passe disso!)

Tenha consciência de que essa é a parte realmente importante de sua vida escolar.

No Brasil, infelizmente, criou-se uma cultura estranha que focaliza a aprendizagem na sala de aula. Isso é um equívoco.

Na aula você não aprende.
Na aula você entende! 

(Do livro "Aprendendo inteligência", do professor Pierluigi Piazzi)

domingo, 17 de abril de 2022

PROPOSTA DE REDAÇÃO

À noite, o mundo é bonito, como se não houvesse desacordos, aflições, ameaças. Mesmo os doentes parece que são mais felizes: esperam dormir um pouco à suavidade da sombra e do silêncio. Há muitos sonhos em cada casa. É bom ter uma casa, dormir, sonhar. O gato retardatário que volta apressado, com certo ar de culpa, num pulo exato galga o muro e desaparece; ele também tem o seu cantinho para descansar. O mundo podia ser tranquilo. As criaturas podiam ser amáveis. No entanto, ele mesmo, o guarda-noturno, traz um bom revólver no bolso, para defender uma rua... 

(Trecho de "Quadrante 2, de Cecília Meireles)

Proposta de redação - Uma narrativa

Título: "Minha rua, à noite".

Não invente - Observe realmente sua rua à noite: os rumores, as pessoas que passam, os veículos, etc, e descreva-a. Se mora na zona rural da cidade, não terá desculpa para não escrever. Descreva uma noite onde você mora. Lá terá até mais o que descrever. A lua, por exemplo.

Pegue uma folha de papel e uma caneta. E mãos à obra!

terça-feira, 12 de abril de 2022

IDEIAS DE PIERLUIGI

Quanto tempo devo estudar?

Se estudar durante trinta minutos, o ideal é ter um intervalo de dez minutos. Recomenda-se uma atividade física, como alongamento ou uma caminhada ou ainda tocar algum instrumento musical. Nunca deixe a televisão, o videogame, o computador ou smartphone interferirem nos estudos.

No tempo de estudo, concentre-se ao máximo, fazendo a tarefa é não se "livrando" dela. (Do livro "Aprendendo inteligência")

O professor Pierluigi era nativo da Itália, mas radicou-se no Brasil até sua morte. Ele dava dicas de como o estudante deve usar bem o cérebro para aprender com facilidade.

Em outra postagem, direi o que ele pensa sobre o uso do computador e celulares no estudo.

segunda-feira, 11 de abril de 2022

CAPÍTULO XVI DE DOM CASMURRO

O ADMINISTRADOR INTERINO

Pádua era empregado em repartição dependente do Ministério da Guerra. Não ganhava muito, mas a mulher gastava pouco, e a vida era barata. Demais, a casa em que morava, assobradada como a nossa, posto que menor, era propriedade dele. Comprou-a com a sorte grande que lhe saiu num meio bilhete de loteria, dez contos de réis. A primeira ideia do Pádua, quando lhe saiu o prêmio, foi comprar um cavalo do Cabo, um adereço de brilhantes para a mulher, uma sepultura perpétua de família, mandar vir da Europa alguns pássaros, etc.; mas a mulher, esta D. Fortunata que ali está à porta dos fundos da casa, em pé, falando à filha, alta, forte, cheia, como a tia, a mesma cabeça, os mesmos olhos claros, a mulher é que lhe disse que o melhor era comprar a casa, e guardar o que sobrasse para acudir às moléstias grandes. Pádua hesitou muito; afinal, teve de ceder aos conselhos de minha mãe, a quem D. Fortunata pediu auxílio. Nem foi só nessa ocasião que minha mãe lhes valeu; um dia chegou a salvar a vida ao Pádua. Escutai; a anedota é curta. 

O administrador da repartição em que Pádua trabalhava teve de ir ao Norte, em comissão. Pádua, ou por ordem regulamentar, ou por especial designação, ficou substituindo o administrador com os respectivos honorários. Esta mudança de fortuna trouxe-lhe certa vertigem; era antes dos dez contos. Não se contentou de reformar a roupa e a copa, atirou-se às despesas supérfluas, deu jóias à mulher, nos dias de festa matava um leitão, era visto em teatros, chegou aos sapatos de verniz. Viveu assim vinte e dous meses na suposição de uma eterna interinidade. Uma tarde entrou em nossa casa, aflito e desvairado, ia perder o lugar, porque chegara o efetivo naquela manhã. Pediu à minha mãe que velasse pelas infelizes que deixava; não podia sofrer a desgraça, matava-se. Minha mãe falou-lhe com bondade, mas ele não atendia a cousa nenhuma.

—Não, minha senhora, não consentirei em tal vergonha! Fazer descer a família, tornar atrás... Já disse, mato-me! Não hei de confessar à minha gente esta miséria. E os outros? Que dirão os vizinhos? E os amigos? E o público?

—Que público, Sr. Pádua? Deixe-se disso; seja homem. Lembre se que sua mulher não tem outra pessoa... e que há de fazer? Pois um homem... Seja homem, ande. Pádua enxugou os olhos e foi para casa, onde viveu prostrado alguns dias, mudo, fechado na alcova,—ou então no quintal, ao pé do poço, como se a ideia da morte teimasse nele. D. Fortunata ralhava:

—Joãozinho, você é criança?

Mas, tanto lhe ouviu falar em morte que teve medo, e um dia correu a pedir à minha mãe que lhe fizesse o favor de ver se lhe salvava o marido que se queria matar. Minha mãe foi achá-lo à beira do poço, e intimou-lhe que vivesse. Que maluquice era aquela de parecer que ia ficar desgraçado, por causa de uma gratificação menos, e perder um emprego interino? Não, senhor, devia ser homem, pai de família, imitar a mulher e a filha... Pádua obedeceu; confessou que acharia forças para cumprir a vontade de minha mãe.

—Vontade minha, não; obrigação sua.

—Pois seja obrigação; não desconheço que é assim mesmo.

Nos dias seguintes, continuou a entrar e sair de casa, cosido à parede, cara no chão. Não era o mesmo homem que estragava o chapéu em cortejar a vizinhança, risonho, olhos no ar, antes mesmo da administração interina. Vieram as semanas, a ferida foi sarando Pádua começou a interessar-se pelos negócios domésticos, a cuidar dos passarinhos, a dormir tranquilo as noites e as tardes, a conversa e dar notícias da rua. A serenidade regressou; atrás dela veio a alegria, um domingo, na figura de - dous amigos, que iam jogar o solo, a tentos. Já ele ria, já brincava, tinha o ar do costume; a ferida sarou de todo.

Com o tempo veio um fenômeno interessante. Pádua começou s falar da administração interina, não somente sem as saudades dos honorários, nem o vexame da perda, mas até com desvanecimento e orgulho. A administração ficou sendo a hégira, donde ele contava para diante e para trás.

—No tempo em que eu era administrador...

Ou então:

—Ah! sim, lembra-me, foi antes da minha administração, ou um dous meses antes... Ora espere; a minha administração começou. É isto, mês e meio antes; foi mês e meio antes, não foi mais.

Ou ainda:

—Justamente; havia já seis meses que eu administrava...

Tal é o sabor póstumo das glórias interinas. José Dias bradava que era a vaidade sobrevivente; mas o Padre Cabral, que levava tudo para a Escritura, dizia que com o vizinho Pádua se dava a lição de Elifás a Jó: "Não desprezes a correção do Senhor; Ele fere e cura".


domingo, 10 de abril de 2022

E SE PERDI A AULA? O QUE DEVO FAZER?

Boa pergunta. 

O que devemos fazer se perdemos a aula?

Deixar o barco andar e pronto?

CAPÍTULO XV DE DOM CASMURRO

OUTRA VOZ REPENTINA

Outra voz repentina, mas desta vez uma voz de homem:

—Vocês estão jogando o siso?

Era o pai de Capitu, que estava à porta dos fundos, ao pé da mulher. Soltamos as mãos depressa, e ficamos atrapalhados. Capitu foi ao muro, e, com o prego, disfarçadamente, apagou os nossos nomes escritos.

— Capitu!

—Papai!

—Não me estragues o reboco do muro.

Capitu riscava sobre o riscado, para apagar bem o escrito. Pádua saiu ao quintal, a ver o que era, mas já a filha tinha começado outra cousa, um perfil, que disse ser o retrato dele, e tanto podia ser dele como da mãe - fê-lo rir, era o essencial. De resto, ele chegou sem cólera, todo meigo, apesar do gesto duvidoso, ou menos que duvidoso em que nos apanhou. Era um homem baixo e grosso, pernas e braços curtos, costas abauladas, donde lhe veio a alcunha de Tartaruga, que José Dias lhe pôs. Ninguém lhe chamava assim lá em casa; era só o agregado.

—Vocês estavam jogando o siso? perguntou.

Olhei para um pé de sabugueiro que ficava perto: Capitu respondeu por ambos.

—Estávamos, sim, senhor, mas Bentinho ri logo, não aguenta.

—Quando eu cheguei à porta, não ria.

—Já tinha rido das outras vezes; não pode. Papai quer ver?

E séria, fitou em mim os olhos, convidando-me ao jogo. O susto é naturalmente sério - eu estava ainda sob a ação do que trouxe, entrada de Pádua, e não fui capaz de rir, por mais que devesse fazê-lo, para legitimar a resposta de Capitu. Esta, cansada de esperar, desviou o rosto, dizendo que eu não ria daquela vez por estar ao pé do pai. E nem assim ri. Há cousas que só se aprendem tarde é mister nascer com elas para fazê-las cedo. E melhor é naturalmente cedo que artificialmente tarde. Capitu, após duas voltas, foi ter com a mãe, que continuava à porta da casa, deixando-nos a mim e ao pai encantados dela; o pai, olhando para ela e para mim, dizia-me, cheio de ternura:

—Quem dirá que esta pequena tem quatorze anos? Parece dezessete. Mamãe está boa? continuou voltando-se inteiramente para mim.

—Está.

—Há muitos dias que não a vejo. Estou com vontade de dar um capote ao doutor, mas não tenho podido, ando com trabalhos da repartição, em casa; escrevo todas as noites que é um desespero; negócio de relatório. Você já viu o meu gaturamo? Está ali no fundo. Ia agora mesmo buscar a gaiola; ande ver.

Que o meu desejo era nenhum, crê-se facilmente, sem ser preciso jurar pelo céu nem pela terra. Meu desejo era ir atrás de Capitu e falar-lhe agora do mal que nos esperava; mas o pai era o pai, e demais amava particularmente os passarinhos. Tinha-os de vária espécie, cor e tamanho. A área que havia no centro da casa era cercada de gaiolas de canários, que faziam cantando um barulho de todos os diabos. Trocava pássaros com outros amadores, comprava-os, apanhava alguns, no próprio quintal, armando alçapões. Também, se adoeciam, tratava deles como se fossem gente.


sábado, 9 de abril de 2022

CAPÍTULO XIV DE DOM CASMURRO

A INSCRIÇÃO

Tudo o que contei no fim do outro Capítulo foi obra de um instante. O que se lhe seguiu foi ainda mais rápido. Dei um pulo, e antes que ela raspasse o muro, li estes dous nomes, abertos ao prego, e sim dispostos:

BENTO

CAPITOLINA

Voltei-me para ela; Capitu tinha os olhos no chão. Ergueu-os logo, devagar, e ficamos a olhar um para o outro... Confissão de crianças, tu valias bem duas ou três páginas, mas quero ser poupado. Em verdade, não falamos nada; o muro falou por nós. Não nos movemos, as mãos é que se estenderam pouco a pouco, todas quatro, pegando-se, apertando-se, fundindo-se. Não marquei a hora exata daquele gesto. Devia tê-la marcado; sinto a falta de uma nota escrita naquela mesma noite, e que eu poria aqui com os erros de ortografia que trouxesse, mas não traria nenhum, tal era a diferença entre o estudante e o adolescente. Conhecia as regras do escrever, sem suspeitar as do amar; tinha orgias de latim e era virgem de mulheres.

Não soltamos as mãos, nem elas se deixaram cair de cansadas ou de esquecidas. Os olhos fitavam-se e desfitavam-se, e depois de vagarem ao perto, tornavam a meter-se uns pelos outros... Padre futuro, estava assim diante dela como de um altar, sendo uma das faces a Epístola e a outra o Evangelho. A boca podia ser o cálix, os lábios a patena. Faltava dizer a missa nova, por um latim que ninguém aprende e é a língua católica dos homens. Não me tenhas por sacrilégio, leitora minha devota a limpeza da intenção lava o que puder haver menos curial no estilo. Estávamos ali com o céu em nossas mãos, unindo os nervos, faziam das duas criaturas uma só, mm uma só criatura seráfica. Os olhos continuaram a dizer cousas infinitas, as palavras de boca é que nem tentavam sair, tornavam ao coração caladas como vinham...


sexta-feira, 8 de abril de 2022

CAPÍTULO XIII DE DOM CASMURRO

CAPITU

De repente, ouvi bradar uma voz de dentro da casa ao pé:

E no quintal:

—Mamãe!

E outra vez na casa:

—Vem cá!

Não me pude ter. As pernas desceram-me os três degraus que davam para a chácara, e caminharam para o quintal vizinho. Era costume delas, às tardes, e às manhãs também. Que as pernas também são pessoas, apenas inferiores aos braços, e valem de si mesma, quando a cabeça não as rege por meio de ideias. As minhas chegaram ao pé do muro. Havia ali uma porta de comunicação mandada rasgar por minha mãe, quando Capitu e eu éramos pequenos. A porta não tinha chave nem taramela- abria-se empurrando de um lado ou puxando de outro, e fechava-se ao peso de uma pedra pendente o uma corda. Era quase que exclusivamente nossa. Em crianças, fazíamos visita batendo de um lado, e sendo recebidos do outro cor, muitas mesuras. Quando as bonecas de Capitu adoeciam, o médico era eu. Entrava no quintal dela com um pau debaixo do braço, para imitar o bengalão do Doutor João da Costa, tomava o pulso à doente e pedia-lhe que mostrasse a língua. "É surda, coitada!", exclamava Capitu. Então eu coçava o queixo, como o doutor, e acabava mandando aplicar-lhe umas sanguessugas ou dar-lhe um vomitório: era a terapêutica habitual do médico.

—Capitu!

—Mamãe!

—Deixa de estar esburacando o muro - vem cá. 

A voz da mãe era agora mais perto, como se viesse já da porta dos fundos.Quis passar ao quintal, mas as pernas, há pouco tão andarilhas, pareciam agora presas ao chão. Afinal fiz um esforço, empurrei a porta, e entrei. Capitu estava ao pé do muro fronteiro, voltada para ele, riscando com um prego. O rumor da porta fê-la olhar para trás; ao dar comigo, encostou-se ao muro, como se quisesse esconder alguma cousa. Caminhei para ela; naturalmente levava o gesto mudado, porque ela veio a mim, e perguntou-me inquieta:

—Que é que você tem?

—Eu? Nada.

—Nada, não; você tem alguma cousa.

Quis insistir que nada, mas não achei língua. Todo eu era olhos e coração, um coração que desta vez ia sair, com certeza, pela boca fora. Não podia tirar os olhos daquela criatura de quatorze anos, alta, forte e cheia, apertada em um vestido de chita, meio desbotado. Os cabelos grossos, feitos em duas tranças, com as pontas atadas uma à outra, à moda do tempo, desciam-lhe pelas costas. Morena, olhos claros e grandes, nariz reto e comprido, tinha a boca fina e o queixo largo. As mãos, a despeito de alguns ofícios rudes, eram curadas com amor, não cheiravam a sabões finos nem águas de toucador, mas com água do poço e sabão comum trazia-as sem mácula. Calçava sapatos de duraque, rasos e velhos, a que ela mesma dera alguns pontos.

—Que é que você tem? repetiu.

—Não é nada, balbuciei finalmente.

E emendei logo.

—É uma notícia.

—Notícia de quê?

Pensei em dizer-lhe que ia entrar para o seminário e espreitar a impressão que lhe faria. Se a consternasse é que realmente gostava de mim; se não, é que não gostava. Mas todo esse cálculo foi obscuro e rápido; senti que não poderia falar claramente, tinha agora a vista não sei como...

—Então?

—Você sabe...

Nisto olhei para o muro, o lugar em que ela estivera riscando, escrevendo ou esburacando, como dissera a mãe. Vi uns riscos abertos e lembrou-me o gesto que ela fizera para cobri-los. Então quis vê-los de perto, e dei um passo. Capitu agarrou-me, mas, ou por temer que eu acabasse fugindo, ou por negar de outra maneira, correu adiante e apagou o escrito. Foi o mesmo que acender em mim o desejo de ler o que era.


quinta-feira, 7 de abril de 2022

CAPÍTULO XII DE DOM CASMURRO

 NA VARANDA

Parei na varanda; ia tonto, atordoado, as pernas bambas, o coração parecendo querer sair-me pela boca fora. Não me atrevia a descer à chácara, e passar ao quintal vizinho. Comecei a andar de um lado para outro, estacando para amparar-me, e andava outra vez e estacava. Vozes confusas repetiam o discurso do José Dias:

"Sempre juntos..."

"Em segredinhos..."

"Se eles pegam de namoro..."

Tijolos que pisei e repisei naquela tarde, colunas amareladas que me passastes à direita ou à esquerda, segundo eu ia ou vinha, em vós me ficou a melhor parte da crise, a sensação de um gozo novo, que me envolvia em mim mesmo, e logo me dispersava, e me trazia arrepios, e me derramava não sei que bálsamo interior. Às vezes dava por mim, sorrindo, um ar de riso de satisfação, que desmentia a abominação do meu pecado. E as vozes repetiam-se confusas;

"Em segredinhos..."

"Sempre juntos..."

"Se eles pegam de namoro..."

Um coqueiro, vendo-me inquieto e adivinhando a causa, murmurou de cima de si que não era feio que os meninos de quinze anos andassem nos cantos com as meninas de quatorze, ao contrário, os adolescentes daquela idade não tinham outro ofício, nem os cantos outra utilidade. Era um coqueiro velho, e eu cria nos coqueiros velhos, mais ainda que nos velhos livros. Pássaros, borboletas, uma cigarra que ensaiava o estilo, toda a gente viva do ar era da mesma opinião. 

Com que então eu amava Capitu, e Capitu a mim? Realmente, andava cosido às saias dela, mas não me ocorria nada entre nós que fosse deveras secreto. Antes dela ir para o colégio, eram tudo travessuras de criança; depois que saiu do colégio, é certo que não estabelecemos logo a antiga intimidade, mas esta voltou pouco a pouco, e no último ano era completa. Entretanto, a matéria das nossas conversações era a de sempre. Capitu chamava-me às vezes bonito, mocetão, uma flor - outras pegava-me nas mãos para contar-me os dedos. E comecei a recordar esses e outros gestos e palavras, o prazer que sentia quando ela me passava a mão pelos cabelos, dizendo que os achava lindíssimos. Eu, sem fazer o mesmo aos dela, dizia que os dela eram muito mais lindos que os meus. Então Capitu abanava a cabeça com uma grande expressão de desengano e melancolia, tanto mais de espantar quanto que tinha os cabelos realmente admiráveis — mas eu retorquia chamando-lhe maluca. Quando me perguntava se sonhara com ela na véspera, e eu dizia que não, ouvia-lhe contar que sonhara comigo, e eram aventuras extraordinárias, que subíamos ao Corcovado pelo ar, que dançávamos na lua, ou então que os anjos vinham perguntar-nos pelos nomes, a fim de os dar a outros anjos que acabavam de nascer. Em todos esses sonhos andávamos unidinhos. Os que eu tinha com ela não eram assim, apenas reproduziam a nossa familiaridade, e muita vez não passavam da simples repetição do dia. alguma frase, algum gesto. Também eu os contava. Capitu um dia notou a diferença, dizendo que os dela eram mais bonitos que os meus, eu, depois de certa hesitação, disse-lhe que eram como a pessoa que sonhava... Fez-se cor de pitanga. 

Pois, francamente, só agora entendia a comoção que me davam essas e outras confidências. A emoção era doce e nova, mas a causa dela fugia-me, sem que eu a buscasse nem suspeitasse. Os silêncios dos últimos dias, que me não descobriam nada, agora os sentia como sinais de alguma cousa, e assim as meias palavras, as perguntas curiosas, as respostas vagas, os cuidados, o gosto de recordar a infância. Também adverti que era fenômeno recente acordar com o pensamento em Capitu, e escutá-la de memória, e estremecer quando lhe ouvia os passos. Se falava nela, em minha casa, prestava mais atenção que dantes, e, segundo era louvor ou crítica, assim me trazia gosto ou desgosto mais intensos que outrora, quando éramos somente companheiros de travessuras. Cheguei a pensar nela durante as missas daquele mês, com intervalos, é verdade, mas com exclusivismo também.

Tudo isto me era agora apresentado pela boca de José Dias, que me denunciara a mim mesmo, e a quem eu perdoava tudo, o mal que dissera, o mal que fizera, e o que pudesse vir de um e de outro. Naquele instante, a eterna Verdade não valeria mais que ele, nem a eterna Bondade, nem as demais Virtudes eternas. Eu amava Capitu! Capitu amava-me! E as minhas pernas andavam, desandavam, estacavam, trêmulas e crentes de abarcar o mundo. Esse primeiro palpitar da seiva, essa revelação da consciência a si própria, nunca mais me esqueceu, nem achei que lhe fosse comparável qualquer outra sensação da mesma espécie. Naturalmente por ser minha. Naturalmente também por ser a primeira.


quarta-feira, 6 de abril de 2022

CAPÍTULO XI DE DOM CASMURRO

CAPÍTULO XI

A PROMESSA

Tão depressa vi desaparecer o agregado no corredor, deixei o esconderijo, e corri à varanda do fundo. Não quis saber de lágrimas nem da causa que as fazia verter a minha mãe. A causa eram provavelmente os seus projetos eclesiásticos, e a ocasião destes é a que vou dizer, por ser já então história velha; datava de dezesseis anos.

Os projetos vinham do tempo em que fui concebido. Tendo-lhe nascido morto o primeiro filho, minha mãe pegou-se com Deus para que o segundo vingasse, prometendo, se fosse varão, metê-lo na Igreja. Talvez esperasse uma menina. Não disse nada a meu pai, nem antes, nem depois de me dar à luz, contava fazê-lo quando eu entrasse para a escola, mas enviuvou antes disso. Viúva, sentiu o terror de separar-se de mim; mas era tão devota, tão temente a Deus, que buscou testemunhas da obrigação, confiando a promessa a parentes e familiares. Unicamente, para que nos separássemos o mais tarde possível, fez-me aprender em casa primeiras letras, latim e doutrina, por aquele Padre Cabral, velho amigo do tio Cose, que ia lá jogar às noites.

Prazos largos são fáceis de subscrever; a imaginação os faz infinitos. Minha mãe esperou que os anos viessem vindo. Entretanto ia-me afeiçoando à ideia da Igreja; brincos de criança, livros devotos. imagens de santos, conversações de casa, tudo convergia para o altar quando íamos à missa, dizia-me sempre que era para aprender a ser padre, e que reparasse no padre, não tirasse os olhos do padre. Em casa, brincava de missa, — um tanto às escondidas, porque minha mãe dizia que missa não era cousa de brincadeira. Arranjávamos um altar, Capitu e eu. Ela servia de sacristão, e alterávamos o ritual, no sentido de dividirmos a hóstia entre nós, a hóstia era sempre um doce. No tempo em que brincávamos assim, era muito comum ouvir à minha vizinha: "Hoje há missa?" Eu já sabia o que isto queria dizer, respondia afirmativamente, e ia pedir hóstia por outro nome. Voltava com ela, arranjávamos o altar, engrolávamos o latim e precipitávamos as cerimônias. Dominus, non sum dignus... Isto, que eu devia dizer três vezes, penso que só dizia uma, tal era a gulodice do padre e do sacristão. Não bebíamos vinho nem água; não tínhamos o primeiro, e a segunda viria tirar-nos o gosto do sacrifício.

Ultimamente não me falavam já do seminário, a tal ponto que eu supunha ser negócio findo. Quinze anos, não havendo vocação, podiam antes o seminário do mundo que o de S. José. Minha mãe ficava muita vez a olhar para mim, como alma perdida, ou pegava-me na mão, a pretexto de nada, para apertá-la muito.


terça-feira, 5 de abril de 2022

CAPÍTULO X DE DOM CASMURRO

ACEITO A TEORIA

Que é demasiada metafísica para um só tenor, não há dúvida; mas a perda da voz explica tudo, e há filósofos que são, em resumo, tenores desempregados.

Eu, leitor amigo, aceito a teoria do meu velho Marcolini, não só pela verossimilhança, que é muita vez toda a verdade, mas porque a minha vida se casa bem à definição. Cantei um duo tecnicismo, depois um trio, depois um quatro... Mas não adiantemos; vamos à primeira parte, em que eu vim a saber que já cantava, porque a denúncia de José Dias, meu caro leitor, foi dada principalmente a mim. A mim é que ele me denunciou.


segunda-feira, 4 de abril de 2022

CAPÍTULO IX DE DOM CASMURRO

Já estamos no nono capítulo de Dom Casmurro, obra do grande escritor brasileiro Machado de Assis.

Espero que esteja lendo desde o primeiro capítulo. Se ainda não leu o supracitado livro, poderá ler aqui ou alhures. Pode ser em livro de papel ou aqui mesmo na grande e maravilhosa rede.

A ÓPERA

Já não tinha voz, mas teimava em dizer que a tinha. "O desuso é que me faz mal", acrescentava. Sempre que uma companhia nova chegava da Europa, ia ao empresário e expunha-lhe todas as injustiças da terra e do céu; o empresário cometia mais uma, e ele saía a bradar contra a iniquidade. Trazia ainda os bigodes dos seus papéis. Quando andava, apesar de velho, parecia cortejar uma princesa de Babilônia. As vezes, cantarolava, sem abrir a boca, algum trecho ainda mais idoso que ele ou tanto — vozes assim abafadas são sempre possíveis. Vinha aqui jantar comigo algumas vezes. Uma noite, depois de muito Chianti, repetiu-me a definição do costume, e como eu lhe dissesse que a vida tanto podia ser uma ópera, como uma viagem de mar ou uma batalha, abanou a cabeça e replicou:

—A vida é uma ópera e uma grande ópera. O tenor e o barítono lutam pelo soprano, em presença do baixo e dos comprimirás, quando não são o soprano e o contralto que lutam pelo tenor, em presença do mesmo baixo e dos mesmos comprimirás. Há coros a numerosos, muitos bailados, e a orquestração é excelente...

—Mas, meu caro Marcolini...

—Quê...

E depois, de beber um gole de licor, pousou o cálix, e expôs-me a história da criação, com palavras que vou resumir.

Deus é o poeta. A música é de Satanás, jovem maestro de muito futuro, que aprendeu no conservatório do céu. Rival de Miguel, Raiael e Gabriel, não tolerava a precedência que eles tinham na distribuição dos prêmios. Pode ser também que a música em demasia doce e mística daqueles outros condiscípulos fosse aborrecível ao seu gênio essencialmente trágico. Tramou uma rebelião que foi descoberta a tempo, e ele expulso do conservatório. Tudo se teria passa do sem mais nada, se Deus não houvesse escrito um libreto de ópera do qual abrira mão, por entender que tal gênero de recreio era impróprio da sua eternidade. Satanás levou o manuscrito consigo para o inferno. Com o fim de mostrar que valia mais que os outros, e acaso para reconciliar-se com o céu,—compôs a partitura, e logo que a acabou foi levá-la ao Padre Eterno.

—Senhor, não desaprendi as lições recebidas, disse-lhe. Aqui tendes a partitura, escutai-a emendai-a, fazei-a executar, e se a achardes digna das alturas, admiti-me com ela a vossos pés...

—Não, retorquiu o Senhor, não quero ouvir nada.

—Mas, Senhor...

—Nada! nada!

Satanás suplicou ainda, sem melhor fortuna, até que Deus, cansado e cheio de misericórdia, consentiu em que a ópera fosse executada, mas fora do céu. Criou um teatro especial, este planeta, e inventou uma companhia inteira, com todas as partes, primárias e comprimárias, coros e bailarinos.

—Ouvi agora alguns ensaios!

—Não, não quero saber de ensaios. Basta-me haver composto o libreto; estou pronto a dividir contigo os direitos de autor.

Foi talvez um mal esta recusa; dela resultaram alguns desconcertos que a audiência prévia e a colaboração amiga teriam evitado com efeito, há lugares em que o verso vai para a direita e a música, para a esquerda. Não falta quem diga que nisso mesmo está a além da composição, fugindo à monotonia, e assim explicam o terceto do Aden, a ária de Abel, os coros da guilhotina e da escravidão. Não é raro que os mesmos lances se reproduzam, sem razão suficiente. Certos motivos cansam à força de repetição. Também há obscuridades; o maestro abusa das massas corais, encobrindo muita vez o sentido por um modo confuso. As partes orquestrais são aliás tratadas com grande perícia. Tal é a opinião dos imparciais.

Os amigos do maestro querem que dificilmente se possa acha obra tão bem acabada. Um ou outro admite certas rudezas e tais ou quais lacunas, mas com o andar da ópera é provável que estas sejam preenchidas ou explicadas, e aquelas desapareçam inteiramente, não se negando o maestro a emendar a obra onde achar que não responde de todo ao pensamento sublime do poeta. Já não dizem c mesmo os amigos deste. Juram que o libreto foi sacrificado, que a partitura corrompeu o sentido da letra, e, posto seja bonita em alguns lugares, e trabalhada com arte em outros, é absolutamente diversa e até contrária ao drama. O grotesco, por exemplo, não está no texto do poeta; é uma excrescência para imitar as Mulheres Patuscas de Windsor. Este ponto é contestado pelos satanistas com alguma aparência de razão. Dizem eles que, ao tempo em que o jovem Satanás compôs a grande ópera, nem essa farsa nem Shakespeare eram nascidos. Chegam a afirmar que o poeta inglês não teve outro gênio senão transcrever a letra da ópera, com tal arte e fidelidade, que parece ele próprio o autor da composição; mas, evidentemente, é um plagiário.

—Esta peça, concluiu o velho tenor, durará enquanto durar o teatro, não se podendo calcular em que tempo será ele demolido por utilidade astronômica. O êxito é crescente. Poeta e músico recebem pontualmente os seus direitos autorais, que não são os mesmos, porque a regra da divisão é aquilo da Escritura: "Muitos são os chamados, poucos ao escolhidos". Deus recebe em ouro, Satanás em papel.

—Tem graça...

—Graça? bradou ele com fúria; mas aquietou-se logo, e replicou: Caro Santiago, eu não tenho graça, eu tenho horror à graça. Isto que digo é a verdade pura e última. Um dia. quando todos os livros forem queimados por inúteis, há de haver algum, pode ser que tenor, e talvez italiano, que ensine esta verdade aos homens. Tudo é música, meu amigo. No princípio era o dó, e do dó fez-se ré, etc. Este cálix (e enchia-o novamente), este cálix é um breve estribilho. Não se ouve? Também não se ouve o pau nem a pedra, mas tudo cabe na mesma ópera...




PARA QUEM AINDA NÃO LEU "DOM CASMURRO"

Quem ainda não leu "Dom Casmurro", pode começar agora. 

Poderá encontrar aqui mesmo neste blog alguns capítulos. Ou, se preferir em PDF, terá facilmente à mão na grande rede de comunicação. 

Olhos e mentes no livro!

Mergulho na cultura!

FOCO NA VIDA DOS ESTUDANTES

Foco não é palavra moderna, atual, mas vive nas bocas e mentes da atual geração.

Na vida de todas as pessoas do planeta ela é importante. Se não tivermos foco, as coisas tendem a não andar direito.

E na vida do estudante? 

Na vida do estudante é muitíssimo importante. Se um estudante foca sua vida em saber de tudo de esportes, tem tudo para não saber de muita coisa da escola, porque não terá tempo para os estudos das matérias escolares.

Então, foco nos estudos. Esporte, nas horas vagas. 

terça-feira, 29 de março de 2022

LEITURA DOS CLÁSSICOS LEVANTA A CABEÇA DO ALUNO

Só para registrar algo que nada tem a ver com o assunto, clássicos era marca de cigarro.

Clássicos aqui no contexto é algo decididamente importante. Um clássico de futebol é coisa para levar muitos torcedores ao estádio e outros tantos a assistirem na TV.

Importante é uma obra de Machado de Assis, José de Alencar, Érico Veríssimo.

Clássicos levantam a cabeça de quem os lê. O aluno ficará capacitado a se expressar melhor, seja na fala, seja na escrita.

Vamos nessa!

segunda-feira, 28 de março de 2022

CAPÍTULO 8 DE DOM CASMURRO

É TEMPO

Mas é tempo de tornar àquela tarde de novembro, uma tarde clara e fresca, sossegada como a nossa casa e o trecho da rua em que morávamos.

Verdadeiramente foi o princípio da minha vida; tudo o que sucedera antes foi como o pintar e vestir das pessoas que tinham de entrar em cena, o acender das luzes, o preparo das rabecas, a sinfonia... Agora é que eu ia começar a minha ópera. "A vida é uma ópera", dizia-me um velho tenor italiano que aqui viveu e morreu... E explicou-me um dia a definição, em tal maneira que me fez crer nela. Talvez valha a pena dá-la; é só um Capítulo.


domingo, 27 de março de 2022

IDEIAS DE PIERLUIGI -

As armadilhas

Em primeiro lugar, lembre-se de que todos nós temos a tendência de nos dedicar mais àquilo de que mais gostamos e em que nos sentimos cada vez mais seguros.

No entanto, temos tendência a deixar de lado justamente aquilo em que temos mais dificuldade. 

Consequentemente, se não tomarmos cuidado, teremos a tendência de nos tornar cada vez melhores naquilo em que já somos bons e cada vez piores naquilo em que já temos deficiências. 

O dia em que você ouvir frases do tipo: eu não preciso saber matemática: eu sou da área de humanas!

Ou então: Odeio ler literatura, mas não me preocupo com isso, e nem preciso disso, afinal, sou de exatas!

Saiba que você está lidando com pobres coitados que caíram nessa armadilha. (Do livro "Aprendendo inteligência", do professor Pierluigi Piazzi)

sábado, 26 de março de 2022

USO CORRETO DO CÉREBRO

Se acreditamos que o cérebro é mesmo uma máquina - uma metáfora, portanto, para o cérebro - então ele só pode funcionar corretamente se for usado corretamente, assim como todas as máquinas.

Então, por que não estudar constantemente, mas deixar para estudar um dia antes, no mesmo dia ou até alguns minutos antes dos testes?

Hein?

CAPÍTULO 7 DE DOM CASMURRO

Bantinho continua narrando sua história; Agora ele apresenta mais um personagem.

CAPÍTULO VII

D. GLÓRIA

Minha Mãe era boa criatura. Quando lhe morreu o marido, Pedro de Albuquerque Santiago, contava trinta e um anos de idade, e podia voltar para Itaguaí. Não quis; preferiu ficar perto da igreja em que meu pai fora sepultado. Vendeu a fazendola e os escravos, comprou alguns que pôs ao ganho ou alugou, uma dúzia de prédios, certo número de apólices, e deixou-se estar na casa de Matacavalos, onde vivera os dous últimos anos de casada. Era filha de uma senhora mineira, descendente de outra paulista, a família Fernandes.

Ora, pois, naquele ano da graça de 1857, D. Maria da Glória Fernandes Santiago contava quarenta e dous anos de idade. Era ainda bonita e moça, mas teimava em esconder os saldos da juventude, por mais que a natureza quisesse preservá-la da ação do tempo. Vivia metida em um eterno vestido escuro, sem adornos, com um xale preto, dobrado em triângulo e abrochado ao peito por um camafeu. Os cabelos, em bandós, eram apanhados sobre a nuca por um velho pente de tartaruga; alguma vez trazia a touca branca de folhas. Lidava assim, com os seus sapatos de cordovão rasos e surdos, a um lado e outro, vendo e guiando os serviços todos da casa inteira, desde manhã até à noite.

Tenho ali na parede o retrato dela, ao lado do marido, tais quais na outra casa. A pintura escureceu muito, mas ainda dá idéia de ambos. Não me lembra nada dele, a não ser vagamente que era alto e usava cabeleira grande; o retrato mostra uns olhos redondos, que me acompanham para todos os lados, efeito da pintura que me assombrava em pequeno. O pescoço sai de uma gravata preta de muitas voltas, a cara é toda rapada, salvo um trechozinho pegado às orelhas. O de minha mãe mostra que era linda. Contava então vinte anos, e tinha uma flor entre os dedos. No painel parece oferecer a flor ao marido. O que se lê na cara de ambos é que, se a felicidade conjugal pode ser comparada à sorte grande, eles a tiraram no bilhete comprado de sociedade.

Concluo que não se devem abolir as loterias. Nenhum premiado as acusou ainda de imorais, como ninguém tachou de má a boceta de Pandora, por lhe ter ficado a esperança no fundo; em alguma parte há de ela ficar. Aqui os tenho aos dous bem casados de outrora, os bem-amados, os bem-aventurados, que se foram desta para a outra vida, continuar um sonho provavelmente. Quando a loteria e Pandora me aborrecem, ergo os olhos para eles, e esqueço os bilhetes brancos e a  boceta fatídica. São retratos que valem por originais. O de minha mãe, estendendo a flor ao marido, parece dizer: "Sou toda sua, meu guapo cavalheiro!" O de meu pai, olhando para a gente, faz este comentário: "Vejam como esta moça me quer..." Se padeceram moléstias, não sei, como não sei se tiveram desgostos: era criança e comecei por não ser nascido. Depois da morte dele, lembra-me que ela chorou muito; mas aqui estão os retratos de ambos, sem que o encardido do tempo lhes tirasse a primeira expressão. São como fotografias instantâneas da felicidade.


sexta-feira, 25 de março de 2022

QUEM FOI DONA GLÓRIA?

Dona Glória é um dos personagens de Machado de Assis que está no seu clássico "Dom Casmurro". 

A personagem Dona Glória é apresentado por Bentinho.

COMO ADQUIRIR UM PODEROSO VOCABULÁRIO

Ler bons livros

Os  escritores denominados de clássicos podem ajudar e muito na formação  de uma gama de palavras e expressões novas.

Não é bom ler textos de escritores e/ou jornalistas, articulistas que apresentam falhas na pontuação e outros problemas com a linguagem.

TESTE SEU VOCABULARIO

Escreva diante de cada palavra abaixo uma outra que comece com r e seja exatamente o seu antônimo.

Comum      
Curvo                     
Aprovação
Pobre 
Conceder
Avanço
Cuidadoso
Pranto 
Fundo 
Imaginário 










PORTUGUÊS É DIFÍCIL

Português - referindo-se à língua - é difícil e ainda por cima muitas pessoas que não a estudam com afinco tratam de deixá-la mais difícil.


quinta-feira, 24 de março de 2022

O QUE É FRASE?

Frase é qualquer expressão ou até mesmo uma palavra que tenha sentido completo.

Se você faz um pedido de socorro, está produzindo uma frase com uma única palavra:

"Socorro!"

Se a pessoa a quem esteja fazendo o pedido for Socorro, a frase ficará mais reforçada. Não é possível que Socorro não lhe preste socorro.

Uma frase pode ser maior e não necessita de verbo. Se tiver verbo, continua sendo frase.

terça-feira, 22 de março de 2022

O PASSADO JÁ PASSOU

Muitas vezes na nossa labuta diária ou mesmo nos estudos somos tentados em acreditar que tal e tal coisa não tem mais como dar certo. Mas é ledo engano!

Se você nunca foi interessado pelos estudos, pode começar agora. Balance a poeira, afaste-se da multidão - que quase sempre está equivocada - e bola pra frente! 

Aos estudos! às leituras!

O museu é muito bom, mas somente ele vive de passado!

segunda-feira, 21 de março de 2022

É PRECISO LER

Quem já chegou ao Ensino Médio e ainda não tem bebido líquidos grossos, como leite, boas vitaminas, das mais fortes, é hora ou já está atrasado.

A metáfora da bebida é para dizer boas leituras.

O que se deve entender por boas leituras para um aluno do Ensino Médio é, obviamente, os clássicos mundiais e nacionais.

Querem exemplos?

Então, balancem-se na grande rede e vejam lá.

Digo, cá.


domingo, 20 de março de 2022

ANÁLISE SINTÁTICA: PONTUAÇÃO

Tu Senhor é minha confiança

Na frase acima há um erro de pontuação e por consequência, sintático. O erro da conjugação do verbo ser, no presente do indicativo também dá uma leve ajudinha.

As duas vírgulas que faltam - uma depois de tu e a outra, depois de Senhor - levam ao erro sintático. 

E qual é o erro? É por ser vocativo que há a necessidade de virgulas. 

O vocativo é o termo da linguagem que chama alguém ou algo. É quando o interlocutor dirige-se diretamente ao outro, num chamamento.

Do jeito que está, a frase fica desarticulada, mas não incompreensível. Um ponto de exclamação cairia muito  bem.

Deveria ficar dessa maneira:

Tu, Senhor, és minha confiança!



CAPÍTULO 6 DE DOM CASMURRO

Um novo personagem é apresentado por Machado de Assis. Vejamos:

CAPÍTULO VI  - Tio Cosme

Tio Cosme vivia com minha mãe, desde que ela enviuvou. Já então era viúvo, como prima Justina; era a casa dos três viúvos.

A fortuna troca muita vez as mãos à natureza. Formado para as serenas funções do capitalismo, tio Cosme não enriquecia no foro: ia comendo. Tinha o escritório na antiga Rua das Violas, perto do júri, que era no extinto Aljube. Trabalhava no crime. José Dias não perdia as defesas orais de tio Cosme. Era quem lhe vestia e despia a toga, com muitos cumprimentos no fim. Em casa, referia os debates. Tio Cosme, por mais modesto que quisesse ser, sorria de persuasão.

Era gordo e pesado, tinha a respiração curta e os olhos dorminhocos. Uma das minhas recordações mais antigas era vê-lo montar todas as manhãs a besta que minha mãe lhe deu e que o levava ao escritório. O preto que a tinha ido buscar à cocheira segurava o freio, enquanto ele erguia o pé e pousava no estribo - a isto seguia-se um minuto de descanso ou reflexão. Depois, dava um impulso, o primeiro, o corpo ameaçava subir, mas não subia; segundo impulso, igual efeito. Enfim, após alguns instantes largos, tio Cosme enfeixava todas as forças físicas e morais, dava o último surto da terra, e desta vez caía em cima do selim. Raramente a besta deixava de mostrar por um gesto que acabava de receber o mundo. Tio Cosme acomodava as carnes, e a besta partia a trote.

Também não me esqueceu o que ele me fez uma tarde. Posto que nascido na roça (donde vim com dous anos) e apesar dos costumes do tempo, eu não sabia montar, e tinha medo ao cavalo. Tio Cosme pegou em mim e escanchou-me em cima da besta. Quando me vi no alto (tinha nove anos), sozinho e desamparado, o chão lá embaixo, entrei a gritar desesperadamente: "Mamãe! mamãe!" Ela acudiu pálida e trêmula, cuidou que me estivessem

matando, pegou-me, afagou-me, enquanto o irmão perguntava:

—Mana Glória, pois um tamanhão destes tem medo de besta mansa?

—Não está acostumado.

—Deve acostumar-se. Padre que seja, se for vigário na roça, é preciso que monte a cavalo; e, aqui mesmo, ainda não sendo padre, se quiser florear como os outros rapazes, e não souber, há de queixar-se de você, mana Glória.

—Pois que se queixe; tenho medo.

—Medo! Ora, medo!

A verdade é que eu só vim a aprender equitação mais tarde, menos por gosto que por vergonha de dizer que não sabia montar. "Agora é que ele vai namorar deveras", disseram quando eu comecei as lições. Não se diria o mesmo de tio Cosme. Nele era velho costume e necessidade. Já não dava para namoros. Contam que, em rapaz, foi aceito de muitas damas, além de partidário exaltado; mas os anos levaram-lhe o mais do ardor político e sexual, e a gordura acabou com o resto de ideias públicas e específicas. Agora só cumpria as obrigações do ofício e sem amor. Nas horas de lazer vivia olhando ou jogava. Uma ou outra vez dizia pilhérias.


sábado, 19 de março de 2022

TIO COSME

Quem foi tio Cosme? Qual era sua profissão?

Tio Cosme é um dos personagens do clássico "Dom Casmurro", de Machado de Assis. Com maestria, Machado bota na boca de Bentinho, narrador em primeira pessoa, as recordações que este teve de seu tio.

É isto o que vamos ler amanhã no capítulo 6.

IDEIAS DE PIERLUIGI

O professor Pier dar mais uma dica para aqueles que querem aprender e não apenas ficar com conteúdos na cabeça até a hora da prova.

Quanto estudar? 

Esta é a parte mais difícil. Se você entendeu que tem de estudar todo dia, já sabe quanto estudar:

Pouco! Mas quanto é esse pouco? Dez minutos, uma hora, cinco horas?

A resposta pode parecer estranha, mas é a que realmente funciona.

Quanto? Você vai descobrir. Ou seja, ao criar o hábito de estudar todo o dia, você irá perceber, ao se autoavaliar algumas semanas depois, que houve dias em que estudou demais! e outros que nos quais estudou de menos.

Em poucos dias ou, no máximo, em poucas semanas, você vai encontrar o ritmo correto.

Com certeza, porém, será pouco estudo quando comparado com aquelas "rachações" de véspera de prova que alguns costumam fazer.  (Do livro "Aprendendo inteligência", do professor Pierluigi Piazzi)

sexta-feira, 18 de março de 2022

CAPÍTULO 5 DE DOM CASMURRO

Quem se lembra o que é - ou era um agregado?

Capítulo V -  O agregado

Nem sempre ia naquele passo vagaroso e rígido. Também se descompunha em acionados, era muita vez rápido e lépido nos movimentos, tão natural nesta como naquela maneira. Outrossim, ria largo, se era preciso, de um grande riso sem vontade, mas comunicativo, a tal ponto ás bochechas, os dentes, os olhos, toda a cara, toda a pessoa, todo o mundo pareciam rir nele. Nos lances graves, gravíssimo. 

Era nosso agregado desde muitos anos; meu pai ainda estava na antiga fazenda de Itaguaí, e eu acabava de nascer. Um dia apareceu ali vendendo-se por www.nead.unama.br 6 médico homeopata; levava um Manual e uma botica. Havia então um andaço de febres; José Dias curou o feitor e uma escrava, e não quis receber nenhuma remuneração. 

Então meu pai propôs-lhe ficar ali vivendo, com pequeno ordenado. José Dias recusou, dizendo que era justo levar a saúde à casa de sapé do pobre. 

—Quem lhe impede que vá a outras partes? Vá aonde quiser, mas fique morando conosco. 

—Voltarei daqui a três meses. 

Voltou dali a duas semanas, aceitou casa e comida sem outro estipêndio, salvo o que quisessem dar por festas. Quando meu pai foi eleito deputado e veio para o Rio de Janeiro com a família, ele veio também, e teve o seu quarto ao fundo da chácara. Um dia, reinando outra vez febres em Itaguaí, disse-lhe meu pai que fosse ver a nossa escravatura. José Dias deixou-se estar calado, suspirou e acabou confessando que não era médico. Tomara este título para ajudar a propaganda da nova escola, e não o fez sem estudar muito e muito; mas a consciência não lhe permitia aceitar mais doentes. 

—Mas, você curou das outras vezes. 

—Creio que sim; o mais acertado, porém, é dizer que foram os remédios indicados nos livros. Eles, sim, eles, abaixo de Deus. Eu era um charlatão... Não negue; os motivos do meu procedimento podiam ser e eram dignos; a homeopatia é a verdade, e, para servir à verdade, menti; mas é tempo de restabelecer tudo. 

Não foi despedido, como pedia então; meu pai já não podia dispensá-lo. Tinha o dom de se fazer aceito e necessário; dava-se por falta dele, como de pessoa da família. Quando meu pai morreu, a dor que o pungiu foi enorme, disseram-me; não me lembra. Minha mãe ficou-lhe muito grata, e não consentiu que ele deixasse o quarto da chácara; ao sétimo dia. Depois da missa, ele foi despedir-se dela. 

—Fique, José Dias. 

—Obedeço, minha senhora. 

Teve um pequeno legado no testamento, uma apólice e quatro palavras de louvor. Copiou as palavras, encaixilhou-as e pendurou-as no quarto, por cima da cama. "Esta é a melhor apólice", dizia ele muita vez. Com o tempo, adquiriu certa autoridade na família, certa audiência, ao menos; não abusava, e sabia opinar obedecendo. Ao cabo, era amigo, não direi ótimo, mas nem tudo é ótimo neste mundo. E não lhe suponhas alma subalterna; as cortesias que fizesse vinham antes do cálculo que da índole. A roupa durava-lhe muito; ao contrário das pessoas que enxovalham depressa o vestido novo, ele trazia o velho escovado e liso, cerzido, abotoado, de uma elegância pobre e modesta. Era lido, posto que de atropelo, o bastante para divertir ao serão e à sobremesa, ou explicar algum fenômeno, falar dos efeitos do calor e do frio, dos polos e de Robespierre. Contava muita vez uma viagem que fizera à Europa, e confessava que a não sermos nós, já teria voltado para lá; tinha amigos em Lisboa, mas a nossa família, dizia ele, abaixo de Deus, era tudo. 

—Abaixo ou acima? perguntou-lhe tio Cosme um dia. 

—Abaixo, repetiu José Dias cheio de veneração. 

E minha mãe, que era religiosa, gostou de ver que ele punha Deus no devido lugar, e sorriu aprovando. José Dias agradeceu de cabeça. Minha mãe dava-lhe de quando em quando alguns cobres. Tio Cosme, que era advogado, confiava-lhe a cópia de papéis de autos.

quinta-feira, 17 de março de 2022

USO DO DICIONÁRIO

Uma boa ideia para quem está precisando de ampliar mais e mais o vocabulário.

Um bom vocabulário é essencial para a construção de um bom texto. Vão por mim!

quarta-feira, 16 de março de 2022

CAPÍTULO 4 DE DOM CASMURRO

O capítulo 4 é mais curto ainda e cheio de expressões antigas que despertam no leitor grandes curiosidades.

Capítulo IV  - Um dever amaríssimo! 

José Dias amava os superlativos. Era um modo de dar feição monumental às ideias; não as havendo, servia a prolongar as frases. Levantou-se para ir buscar o gamão, que estava no interior da casa. Cosi-me muito à parede, e vi-o passar com as suas calças brancas engomadas, presilhas, rodaque e gravata de mola. Foi dos últimos que usaram presilhas no Rio de Janeiro, e talvez neste mundo. Trazia as calças curtas para que lhe ficassem bem esticadas. A gravata de cetim preto, com um arco de aço por dentro, imobilizava-lhe o pescoço; era então moda. O rodaque de chita, veste caseira e leve, parecia nele uma casaca de cerimônia. Era magro, chupado, com um princípio de calva; teria os seus cinquenta e cinco anos. Levantou-se com o passo vagaroso do costume, não aquele vagar arrastado se era dos preguiçosos, mas um vagar calculado e deduzido, um silogismo completo, a premissa antes da consequência, a consequência antes da conclusão. Um dever amaríssimo!

terça-feira, 15 de março de 2022

ATÉ QUE ENFIM

Depois de findo o período grevista, a angústia dos alunos dos alunos que estavam preocupados porque não havia aula deve ser transformada em muito estudo.

segunda-feira, 14 de março de 2022

BONS LEITORES

No capítulo 3 de Dom Casmurro, o narrador conta a denúncia. É um capítulo curto, como grande parte dos capítulos da obra.

Mas... Denúncia de quê mesmo?

Capítulo 3 de Dom Casmurro

A denúncia

Ia a entrar na sala de visitas, quando ouvi proferir o meu nome e escondi-me atrás da porta. A casa era a da Rua de Matacavalos, o mês novembro, o ano é que é um tanto remoto, mas eu não hei eu de trocar as datas à minha vida só para agradar as pessoas que não amam histórias velhas; o ano era de 1857.

- D. Glória, a senhora persiste na ideia de meter o nosso Bentinho no seminário? É mais que tempo, e já agora pode haver uma dificuldade.

- Que dificuldade?

- Uma grande dificuldade.

Minha mãe quis saber o que era. José Dias, depois de alguns instantes,  de concentração, , veio ver se havia alguém no corredor; não deu por mim, voltou e, abafando a voz, disse que a dificuldade estava na casa ao pé, a gente do Pádua.

- A gente do Pádua?

- Há algum tempo estou para lhe dizer isto, mas não me atrevia. Não me parece bonito que o nosso Bentinho ande metido nos cantos com a filha do Tartaruga, e esta é a dificuldade, porque se eles pegam de namoro, a senhora terá muito que lutar para separá-los.

- Não acho. Metido nos cantos?

É um modo de falar. Em segredinhos, sempre juntos. Bentinho quase que não sai de lá. A pequena é uma desmiolada; o pai faz que não vê; tomara ele que as coisas corressem de maneira, que... Compreendo o seu gesto; a senhora não crê em tais cálculos, parece-lhe que todos têm a alma cândida...

Mas, Sr. José Dias, tenho visto os pequenos brincando, e nunc vi nada que faça desconfiar. Basta a idade; Bentinho mal tem quinze anos. Capitu fez quatorze a semana passada; são dois criançolas. Não se esqueça que foram criados juntos, desde aquela grande enchente, há dez anos, em que a família Pádua perdeu tanta coisa; daí vieram as nossas relações. Pois eu hei de crer?...? Mano Cosme, você que acha?

Tio Cosme respondeu com um "Ora" que, traduzido em vulgar, queria dizer: "São imaginações do José Dias; os pequenos divertem-se, eu divirto-me; onde está o gamão?"

- Sim, creio que o senhor está enganado.

- Pode ser, minha senhora. Oxalá tinham razão; mas creia que não falei senão dpois de muito examinar...

- Em todo caso, vai sendo tempo, interrompeu minha mãe; vou tratar de met^-lo  no seminário quanto antes.

Bem, uma vez que não perdeu a ideia de o fazer padre, tem-se ganho o principal. Bentinho há de satisfazer os desejos de sua mãe. E depois a igreja brasileira tem altos destinos. Não esqueçamos que um bispo presidiu a Constituinte, e que o padre Feijó governou o o império...

- Governou com a cara dele! atalhou tio Cosme, cedendo a antigos rancores políticos.

- Perdão, doutor, não estou defendendo ninguém, estou citando. O que eu quero é dizer que o clero ainda tem grande papel no Brasil.

- Você o que quer é um capote; ande, vá buscar o gamão. Quanto ao pequeno, se tem de ser padre, realmente é melhor que não comece a dizer missa atrás das portas. Mas, olhe cá, mana Glória, há mesmo necessidade de fazê-lo padre?

- Sei que você fez promessa... mas, uma promessa assim... não sei...Creio que bem pensado... Você que acha, prima Justina?

- Eu?

- Verdade é que cada um sabe melhor de si, continuou tio Cosme; Deus é que sabe de todos. Contudo, uma promessa de tantos anos... Mas, que é isso, mana Glória? Está chorando? Ora esta! Pois é coisa de lágrimas?

Minha mãe assou-se sem responder. Prima Justina creio que se levantou e foi ter com ela. Seguiu-se um alto silêncio, durante o qual estive a pique de entrar na sala, mas outra força maior, outra emoção... Não pude ouvir as palavras que Tio Cosme estrou a dizer. Prima Justina exortava: "Prima Glória! Prima Glória!" José Dias desculpava-se: "Se soubesse, não teria falado, mas falei pela veneração, pela estima, pelo afeto, para cumprir um dever amargo, um dever amaríssimo..."


domingo, 13 de março de 2022

IDEIAS DE PIERLUIGGI

Se você criar o hábito de estudar pouco, mas todos os dias, irá verificar, em pouco tempo, que o que você estudou não ficará retido apenas o tempo o bastante para, mal e porcamente, descarregar num papel na hora da prova.

sábado, 12 de março de 2022

CAPÍTULO 2 DE DOM CASMURRO

Depois de ler o capítulo 1, vamos ao 2. O personagem-narrador apresenta a casa onde mora, como vive e o objetivo da obra. Com um dicionário à mão, a leitura flui leve.

Do Livro 

Agora que expliquei o título, passo a escrever o livro. Antes disso, porém, digamos os motivos que me põem a pena na mão. 

Vivo só, com um criado. A casa em que moro é própria; fi-la construir de propósito, levado de um desejo tão particular que me vexa imprimi-lo, mas vá lá. Um dia, há bastantes anos, lembrou-me reproduzir no Engenho Novo a casa em que me criei na antiga Rua de Matacavalos, dando-lhe o mesmo aspecto e economia daquela outra, que desapareceu. Construtor e pintor entenderam bem as indicações que lhes fiz: é o mesmo prédio assobradado, três janelas de frente, varanda ao fundo, as mesmas alcovas e salas. Na principal destas, a pintura do teto e das paredes é mais ou menos igual, umas grinaldas de flores miúdas e grandes pássaros que as tomam nos bicos, de espaço a espaço. Nos quatro cantos do teto as figuras das estações, e ao centro das paredes os medalhões de César, Augusto, Nero e Massinissa, com os nomes por baixo... Não alcanço a razão de tais personagens. Quando fomos para a casa de Matacavalos, já ela estava assim decorada; vinha do decênio anterior. Naturalmente era gosto do tempo meter sabor clássico e figuras antigas em pinturas americanas. O mais é também análogo e parecido. Tenho chacarinha, flores, legume, uma casuarina, um poço e lavadouro. Uso louça velha e mobília velha. Enfim, agora, como outrora, há aqui o mesmo contraste da vida interior, que é pacata, com a exterior, que é ruidosa. 

O meu fim evidente era atar as duas pontas da vida, e restaurar na velhice a adolescência. Pois, senhor, não consegui recompor o que foi nem o que fui. Em tudo, se o rosto é igual, a fisionomia é diferente. Se só me faltassem os outros, vá; um homem consola-se mais ou menos das pessoas que perde; mas falto eu mesmo, e esta lacuna é tudo. O que aqui está é, mal comparando, semelhante à pintura que se põe na barba e nos cabelos, e que apenas conserva o hábito externo, como se diz nas autópsias; o interno não aguenta tinta. Uma certidão que me desse vinte anos de idade poderia enganar os estranhos, como todos os documentos falsos, mas não a mim. Os amigos que me restam são de data recente; todos os antigos foram estudar a geologia dos campos santos. Quanto às amigas, algumas datam de quinze anos, outras de menos, e quase todas creem na mocidade. Duas ou três fariam crer nela aos outros, mas a língua que falam obriga muita vez a consultar os dicionários, e tal frequência é cansativa. 

Entretanto, vida diferente não quer dizer vida pior; é outra coisa. A certos respeitos, aquela vida antiga aparece-me despida de muitos encantos que lhe achei; mas é também exato que perdeu muito espinho que a fez molesta, e, de memória, conservo alguma recordação doce e feiticeira. Em verdade, pouco apareço e menos falo. Distrações raras. O mais do tempo é gasto em hortar, jardinar e ler; como bem e não durmo mal. 

Ora, como tudo cansa, esta monotonia acabou por exaurir-me também. Quis variar, e lembrou-me escrever um livro. Jurisprudência, filosofia e política acudiram-me, mas não me acudiram as forças necessárias. Depois, pensei em fazer uma História dos Subúrbios, menos seca que as memórias do Padre Luís Gonçalves dos Santos, relativas à cidade; era obra modesta, mas exigia documentos e datas, como preliminares, tudo árido e longo. Foi então que os bustos pintados nas paredes entraram a falar-me e a dizer-me que, uma vez que eles não alcançavam reconstituir-me os tempos idos, pegasse da pena e contasse alguns. Talvez a narração me desse a ilusão, e as sombras viessem perpassar ligeiras, como ao poeta, não o do trem, mas o do Fausto: Aí vindes outra vez, inquietas sombras...? 

Fiquei tão alegre com esta ideia, que ainda agora me treme a pena na mão. Sim, Nero, Augusto, Massinissa, e tu, grande César, que me incitas a fazer os meus comentários, agradeço-vos o conselho, e vou deitar ao papel as reminiscências que me vierem vindo. Deste modo, viverei o que vivi, e assentarei a mão para alguma obra de maior tomo. Eia, comecemos a evocação por uma célebre tarde de novembro, que nunca me esqueceu. Tive outras muitas, melhores, e piores, mas aquela nunca se me apagou do espírito. É o que vais entender, lendo. 

sexta-feira, 11 de março de 2022

FOCO NA LITERATURA, LEITURA E VOCABULÁRIO

O estudante bom deve ficar sua vida estudantil na leitura de bons produtores de textos do naipe dos grandes escritores brasileiros.

Não deverá também perder o foco no vocabulário usado por eles. 

Aprender palavras novas é o que sustenta no futuro bons redatores.

terça-feira, 8 de março de 2022

GÍRIA EM INGLÊS

Afters - Sobremesa.

Literalmente, after significa depois de, após.

segunda-feira, 7 de março de 2022

BONS LEITORES

Tentando desfazer alguns mitos sobre leitura

Na coluna "Bons leitores", postarei nesta primeira etapa o texto integral de um dos clássicos da literatura brasileira: "Dom Casmurro", de Machado de Assis. Será um trabalho braçal e de esforço para provar aos leitores iniciais que a leitura deste clássico não é tão difícil de ler como se pintam por aí.

Tentem saborear o capítulo 1, caros leitores, e verás quanto interessante é a história de Bentinho e Capitu. Qualquer dúvida sobre o vocabulário, não tenham vergonha e fazer uma parada e consultar um dicionário. O narrador-personagem começa sua extraordinária história quando viajava num trem.

Capítulo 1 de Dom Casmurro

Do título

Uma noite destas, vindo da cidade para o Engenho Novo, encontrei no trem da Central um rapaz aqui do bairro, que eu conheço de vista e de chapéu. Cumprimentou-me, sentou-se ao pé de mim, falou da lua e dos ministros, e acabou recitando-me versos. A viagem era curta, e os versos pode ser que não fossem inteiramente maus. Sucedeu, porém, que, como eu estava cansado, fechei os olhos três ou quatro vezes; tanto bastou para que ele interrompesse a leitura e metesse os versos no bolso.

- Continue, disse eu acordando.

- Já acabei, murmurou ele.

- São muito bonitos. 

Vi-lhe fazer um gesto para tirá-los outra vez do bolso, mas não passou do gesto; estava amuado. No dia seguinte entrou a dizer de mim nomes feios, e acabou alcunhando-me Dom Casmurro. Os vizinhos, que não gostam dos meus hábitos reclusos e calados, deram curso à alcunha, que afinal pegou. Nem por isso me zanguei. Contei a anedota aos amigos da cidade, e eles, por graça, chamam-me assim, alguns em bilhetes: "Dom Casmurro, domingo vou jantar com você".  - "Vou para Petrópolis, Dom Casmurro; a casa é a mesma da Renânia; vê se deixas essa caverna do Engenho Novo, e vais lá passar uns quinze dias comigo". - "Meu caro Dom Casmurro, não cuide que o dispenso do teatro amanhã; venha e dormirá aqui na cidade; dou-lhe camarote, dou-lhe chá, dou-lhe cama; só não lhe dou moça".

Não consultes dicionários. Casmurro não está aqui no sentido que eles lhe dão, mas no que lhe pôs o vulgo de homem calado e metido consigo. Dom veio por ironia, para atribuir-me fumos de fidalgo. Tudo por estar cochilando! Também não achei melhor título para a minha narração. Se não tiver outro daqui até o fim do livro, vai este mesmo. O meu poeta do trem ficará sabendo que não lhe guardo rancor. E com pequeno esforço, sendo o título seu, poderá cuidar que a obra é sua. Há livros que apenas terá isso dos seus autores; alguns nem tanto.


domingo, 6 de março de 2022

PARA UM BOM RETORNO ÀS AULAS

Se é verdade que o mais prejudicado é o aluno quando se trata de não ter aula por causa de pandemia, imprensado, greve e outras coisas, então é bom que os alunos procurem aproveitar o tempo em que estiver havendo aula, sem reclamar tanto do tempo em que está frequentando.

Por que devemos aproveitar o máximo o tempo escolar?

Porque ninguém sabe o que pode acontecer daqui pra frente. Os mais jovens não sabem que até por causa de chuvas em excesso pode o ano letivo ser interrompido por um tempo. Em 2009, passamos aproximadamente um mês sem ter aulas por causa das fortes chuvas e a consequente sangria da barragem de Umari.

A sangria da barragem de Umarí, localizada no município de Upanema, aumentou bastante depois das últimas chuvas caídas na região. A barragem, terceiro maior reservatório de água do Estado, está com 0,65 cm de lâmina d`água, sendo a maior de sua história e, causando estragos por onde passa. Com isso, a situação se agravou em algumas áreas próximas da margem do rio, que corta a cidade. 

Nas primeiras horas de hoje, duas famílias tiveram que ser retiradas de suas casas devido à invasão das águas. Uma, foi transferida para casa de parentes, a outra está abrigada no colégio municipal Maria Gorete. No total, cerca de seis famílias já foram retiradas de seus lares em decorrência da enchente.
Outro problema causado pelas chuvas, é o isolamento das comunidades rurais. A única passagem molhada que dava acesso as comunidades localizadas a leste do município, está debaixo d`água. As aulas foram suspensas em virtude das estradas vicinais não apresentarem condições de tráfego. Ontem à noite, no caso mais grave, uma mulher em trabalho de parto teve que ser transferida para Açú, pois não conseguia chegar a sede do município upanemense. Toda a operação teve o apoio da Polícia Rodoviária Federal, que estava orientada pela Secretaria Municipal de Saúde, caso ocorressem problemas com os atoleiros da estrada de barro que liga os dois municípios. Pelas informações obtidas, mãe e filho passam bem. (Secretaria de Turismo e Comunicação de Upanema, em 27 de maio de 2009)

Bastou a nossa barragem sangrar para que as coisas por aqui ficassem preta. 

A dica que dou a todos é que voltemos com vontade de estudar. "Tudo pode acontecer". É o que sempre diz um velho amigo setentão.